Órgão Oficial do |
Centro de Estudos - Departamento de Psiquiatria - UNIFESP/EPM |
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O paciente violento: avaliação e medidas
gerais |
Transtornos afetivos e e tiroidopatia |
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Uso de antidepressivos e sintomas de interrupção
Saulo Castel, Maria
Laura N Pires e Helena Maria Calil
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Saulo Castel |
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Correspondência |
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Há algumas décadas foi reconhecido que uma interrupção abrupta ou mesmo gradual dos antidepressivos clássicos provoca o aparecimento de sintomas somáticos e psicológicos.1 Além disso, nos últimos anos também têm sido descritos sintomas de interrupção do tratamento com a nova classe de antidepressivos, os ISRS.
Os critérios para uma suposta síndrome de interrupção incluem: (1) os sintomas não são atribuíveis a outras causas; (2) aparecem após a interrupção abrupta, falhas na ingestão e, mais raramente, após a redução da dose; (3) geralmente são leves e de curta duração, embora possam causar preocupação; (4) podem ser revertidos com a reintrodução do medicamento original ou outro fármaco similar; (5) podem ser minimizados com a redução gradual da medicação ou administração de ISRS de meia-vida longa.2
Sintomas de interrupção do tratamento com antidepressivos clássicos
Podem ser divididos em cinco grupos:
A freqüência desses sintomas de interrupção, dependendo do tipo de antidepressivo, pode variar entre 16% e 100%, tendendo a ser transitória e raramente necessita de tratamento. O melhor parece ser a reintrodução do agente, seguida de sua suspensão gradual.Vários relatos descrevem sintomas de interrupção de maior gravidade após a suspensão de Inibidores de Monoaminoxidase (IMAO): agitação, agressividade, irritabilidade, discurso acelerado ou lentificado, insônia ou hipersonia, deterioração cognitiva, instabilidade afetiva, alucinações, delírios paranóides e transtornos motores.
A venlafaxina também induz sintomas de interrupção, como astenia, tonturas, cefaléia, insônia, náuseas, nervosismo e síndrome do tipo gripal, com uma incidência de 5%.3
Sintomas de interrupção (SI) dos ISRS
Os estudos clínicos precedendo a comercialização de um composto geralmente não identificam SI por sua curta duração, falta de acompanhamento dos pacientes após a suspensão do tratamento, ausência de pesquisa sistemática desses sintomas e exclusão dos pacientes que freqüentemente pulam doses. Em geral, as primeiras descrições provêm de relatos de casos, que são seguidos por dados de farmacovigilância e, finalmente, estudos especificamente desenhados para investigar esse fenômeno. Esses permitem identificar o perfil dos sintomas, a sua prevalência e os fatores de risco.
Estudos de relatos de casos com quatro ISRS (fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina) na Grã-Bretanha indicaram que a paroxetina teve a maior prevalência de SI, seguida pela fluvoxamina.4
Numa revisão de 171 casos de pacientes ambulatoriais que tinham sido supervisionados durante o período de redução e suspensão da dose de clomipramina, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina, a freqüência desses sintomas foi: clomipramina (30,8%), paroxetina (20%) e fluvoxamina (14%), sertralina (2,2%) e fluoxetina (0%). Esses sintomas geralmente começaram entre 2 e 3 diasapós a última dose e desapareceram em 24h com a retomada da paroxetina, enquanto que naqueles em que este medicamento não foi administrado novamente, persistiram até 21 dias.5
A síndrome de interrupção
dos ISRS tem os seguintes sintomas: (1) transtornos do equilíbrio (p.
ex., tonturas, vertigem, ataxia); (2) transtornos gastrintestinais; (3) gripais
como cansaço, letargia, mialgia, calafrios; (4) transtornos sensitivos
ou sensoriais (p. ex., parestesia, sensação de choque elétrico);
e (5) transtornos do sono (p. ex., insônia, sonhos vívidos). Os
sintomas psicológicos têm sido, por ordem de freqüência,
ansiedade/agitação, crises de choro e irritabilidade, hiperatividade,
despersonalização, desânimo, problemas de memória,
confusão e diminuição da concentração e/ou
lentidão do pensamento. Todos os sintomas são de intensidade de
leve a moderada e podem ser observados mesmo após a diminuição
da dose ou omissão de algumas doses.6 Seu tratamento está descrito na Tabela 1.7
Tabela 1 - Estratégias para o manejo dos sintomas de interrupção do tratamento |
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A hipótese melhor fundamentada do mecanismo da síndrome de interrupção de ISRS é a diminuição da serotonina disponível na sinapse em conseqüência da diminuição de receptores serotoninérgicos (5-HT2 e/ou 5-HTA).8
Seria interessante destacar que a paroxetina, mais freqüentemente associada com a síndrome de interrupção, é o inibidor mais potente da recaptação da serotonina e o ISRS de meia-vida mais curta. Ao contrário, a fluoxetina (maior meia-vida) não parece causar problemas durante a suspensão abrupta.9
As diferenças entre início, freqüência, intensidade e duração da síndrome de interrupção entre os ISRS poderia ser explicada também pelo padrão farmacocinético de cada composto,10 principalmente meia-vida e presença ou ausência de metabólito ativo (Tabela 2). Entretanto, esses parâmetros isoladamente não explicam completamente as diferenças entre ISRS, principalmente em relação à freqüência.
Tabela 2 - Parâmetros farmacocinéticos dos ISRS
Droga |
Meia-vida (horas) |
Metabólito ativo e sua meia-vida |
Fluoxetina |
144 |
norfluoxetina (7-15 dias) |
Sertralina |
26 |
n-desmetilsertralina (66 h) |
Citalopram |
33 |
nenhum |
Paroxetina |
21 |
nenhum |
Fluvoxamina |
15 |
nenhum |
Discussão
Os sintomas de interrupção dos ISRS são semelhantes aos descritos após a suspensão dos antidepressivos tricíclicos e dos IMAO. Entretanto, as alterações sensitivas parecem ocorrer apenas após a suspensão da administração de ISRS.
Muitos relatos de casos têm-se referido à síndrome de interrupção de ISRS como "sintomas de abstinência", embora esses sejam diferentes da síndrome de abstinência clássica associada a substâncias psicoativas. Os antidepressivos não têm sido associados à tolerância, dependência ou busca ativa do medicamento. Esses são alguns dos motivos pelos quais se tem escolhido a denominação de sintomas de abstinência ou mesmo síndrome de interrupção.
Esses sintomas não devem ser considerados como uma recaída da depressão, uma vez que ocorrem também em pacientes com outras patologias. Na prática clínica, um aspecto que ajuda a diferenciar os sintomas de interrupção de uma recaída é que esses aparecem antes. A prevalência reduzida dos sintomas de interrupção do tratamento com ISRS não deve limitar sua utilidade clínica.
Referências
Volume 33, número 3 |
jul · set 2000 |
Última atualização: