SOBRE UMA PRÁTICA
DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA UTILIZANDO ARQUIVOS
ESCOLARES VIRTUAIS Assim,
não apenas as tradicionais fontes legais e estatísticas vêm
sendo revisitadas, como uma parcela consistente dos investigadores da área,
individual e coletivamente, tem se lançado ao desafio de ampliar a massa
documental à disposição do campo, o que em alguns casos vem
conduzindo à constituição de Centros de Memória e
Documentação; e de se inserir no debate epistemológico que
tal ampliação envolve. Nesse percurso,
os arquivos escolares têm chamado cada vez mais a atenção
istoriadores da educação brasileira e se constituído em tema
de discussão. (p.2). O GHEMAT – Grupo de Pesquisa de História
da Educação Matemática, vinculado atualmente à Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, constitui um dos Grupos que
vêm trabalhando na perspectiva mencionada pela historiadora Diana Vidal.
Fundado no ano de 2000, o Grupo tem dado ênfase,
em grande medida, em seus projetos, ao trabalho de construir fontes de pesquisa
a partir dos arquivos escolares, dos arquivos pessoais de professores de Matemática
e da produção didático-pedagógica ligada ao ensino
dessa disciplina. Sobre a elaboração
da Coletânea de Documentos Virtuais do Arquivo Escolar do Colégio
Pedro II. O projeto de pesquisa Estudos Históricos sobre a Educação
Matemática no Brasil, 1950-2000, financiado pelo CNPq, privilegia em seu
desenvolvimento, o trato com arquivos escolares e pessoais. Do mesmo modo que
em projetos de pesquisa anteriores, desenvolvidos pelo GHEMAT, parte substancial
do trabalho nesse Projeto organiza-se a partir de um inventário e construção
de bases de dados documentais digitalizados1. Um
inventário preliminar feito no Arquivo Escolar do Colégio Pedro
II, do Rio de Janeiro, mostrou a xistência de grande quantidade de documentos
importantes para estudo da trajetória histórica de profissionalização
do professor de matemática, no Brasil. Provas, exames de concursos à
cátedra de Matemática e de Desenho, atas e documentos registrando
os debates sobre a educação matemática constituíram,
de início, o ponto central de atenção. No entanto, à
medida em que o projeto foi sendo desenvolvido, constatouse a necessidade de alargar
a base de dados a ser digitalizada. A consulta ao Arquivo mostrou que, para além
da documentação relativa à educação matemática
no colégio padrão do ensino secundário, um outro enorme onjunto
de papéis poderia ser adicionado à base, contendo elementos importantíssimos
para a história de educação brasileira. Assim
se explica que, o que originalmente seria uma coletânea de documentos sobre
educação matemática, cabou por ganhar a denominação
de Coletânea de documentos para a história da educação.
Sobre o uso de documentos virtuais na prática da história. São
os problemas de preservação do patrimônio documental, e sua
progressiva deterioração que vêm motivando iniciativas em
todo o mundo, de elaboração de bibliotecas e acervos virtuais. Desse
modo, historiadores vão se defrontando, mais e mais, com o uso de referências
documentais virtuais em sua prática intelectual. Além
disso é, de fato, muito cômodo e prático poder rapidamente,
ter à mão, documentos originalmente de difícil acesso e,
muitas vezes, raros que demandariam tempo enorme para serem consultados. Inclua-se,
ainda, a economia com gastos financeiros a serem empenhados na busca de um material,
de um documento, ou de uma série deles. Não
obstante toda a facilidade de trabalho com documentos virtuais, agregam-se problemas
para a prática historiográfica. Rolando Minuti, no livro Internet
et le métier d’historien2 chama-nos a atenção para
dois deles: O primeiro problema metodológico
fundamental que se coloca face a um documento digitalizado que se quer utilizar
como fonte é sua ausência material, sua natureza de objeto virtual
(2002, p. 69) A partir dessa afirmação
o autor pondera que o trabalho do historiador ao manejar suas fontes exige que
elas sejam identificáveis, estáveis e inalteradas e, assim, sejam
suscetíveis de serem analisadas, criticadas e interpretadas (Minuti, 2002,
p. 71). As fontes do trabalho histórico, desse
modo, não devem sofrer alterações e, quando isso acontece,
deve haver registros e certificações precisamente registradas. Minuti
objeta que a natureza do documento digitalizado é diferente daquela cujo
suporte é o papel, por exemplo. Segundo esse autor, o documento digitalizado
é, por natureza, plástico. Ele está sujeito a mudanças
e alterações que podem não deixar traços identificáveis
(2002, p. 72). Um outro problema que se apresenta
ao historiador, quando trabalha com materiais digitalizados – que estamos
chamando simplesmente de virtuais – , está relacionado à mediação
mecânica e eletrônica para o uso do documento (Minuti, 2002, p. 73).
Explica-se: com o passar do tempo, crescem as dificuldades de acesso a documentos
digitalizados através de sistemas operacionais que vão sendo substituídos
por novas versões e novos aparatos tecnológicos. Pode-se concluir,
dessa forma, que o documento digitalizado é muito mais frágil relativamente
àqueles em papel, que até hoje é possível encontrar,
com cerca de quinhentos anos (Minuti, 2002, p. 74) Segue...
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