SOBRE UMA PRÁTICA DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA UTILIZANDO ARQUIVOS ESCOLARES VIRTUAIS

Ao que tudo indica, vive-se uma transição, um momento onde está por ser normatizada e estabilizada uma nova etapa de trabalho para o historiador, em meio ao mundo das fontes digitalizadas. Essa nova etapa precisa ser capaz de dar respostas a questões sintetizadas por Minuti, tais como:

• como tornar estável um material que, por sua natureza virtual, tende à variabilidade e mobilidade?

• Qual o melhor meio para conversão do patrimônio documental em bases digitalizadas?

A construção de arquivos e bibliotecas virtuais tem sido realizada, segundo Rolando Minuti, por intermédio de iniciativas individuais “às vezes excelentes, às vezes discutíveis”; e de iniciativas institucionais, que têm crescido enormemente.

Os documentos virtuais da Coletânea

A Coletânea reúne documentos ímpares para a história da educação brasileira e, também, especificamente, para a história da educação matemática. Há, por exemplo, toda uma documentação a respeito de concursos à cátedra de Matemática do Colégio Pedro II, em dois momentos históricos importantes: o primeiro, antes da existência das faculdades de filosofia; o segundo, após anos de seu funcionamento na formação de professores de matemática3. Vale destacar, ainda, a digitalização de um conjunto grande de Atas da Congregação do Colégio Pedro II, que reúne material para estudos de diferentes temas presentes no cotidiano da escola padrão para o ensino secundário brasileiro4.

Considerações finais

As investigações realizadas pelo GHEMAT incluem, como uma de suas etapas fundamentais, a construção de bases de dados com documentação virtual. Todos os papéis digitalizados estão sempre integrados em CDROMs, através de mecanismos de busca, que viabilizam o seu uso por outros pesquisadores com temáticas e problemas de pesquisa que podem ser completamente diversos daqueles que originalmente conduziram a digitalização.

Não raro, pesquisas de mestrado, doutorado, depois de acercarem-se de fontes documentais, que consumiram boa parte do tempo da investigação para serem encontradas e organizadas, não ficam disponíveis para outros investigadores. Acabam servindo para a produção do trabalho acadêmico individual, obrigando a outros pesquisadores refazerem o percurso utilizado para o encontro e organização desses materiais.

Somem-se os muitos casos em que o ato de refazer o périplo para encontro dos documentos fracassa uando o que estava disponível num arquivo morto, por exemplo, deixou de existir por ter sido, com tempo, descartado ou mesmo deteriorado. Infelizmente, a organização e disponibilização de bases digitalizadas de documentos não tem status de produção acadêmica, isto é, não confere grau de mestrado, por exemplo. Esse é um elemento que, também, não estimula procedimentos de rganização dos dados para uso de outrem. Assim, as fontes descartadas depois do uso, com o dispêndio de grande quantidade de horas de trabalho para terem sido encontradas e organizadas, são perdidas ou deixadas à própria sorte, no lugar onde foram encontradas originalmente. E, muitas vezes, esses lugares não reúnem qualquer condição para a preservação documental. Alargar a noção de documento arquivístico em educação, como quer Vidal (2004, p. 11) é condição fundamental para a preservação dos objetos culturais produzidos pela escola e que poderão transformarse em fontes de pesquisa da história da educação.

No entanto, é necessário realizar, concomitantemente, ações dos Grupos interessados na produção histórica da educação, no seio mesmo da própria pesquisa, que visem a constituição de bases de dados virtuais. prática de pesquisa do GHEMAT reúne vários pesquisadores em torno de projtos mais amplos, colocando como fase fundamental para o trabalho do Grupo, a atividade de coleta, organização, sistematização e digitalização de fontes documentais que servem a todos os trabalhos ligados aos projetos. Esse trabalho, inclui, ainda, a disponibilização das bases de dados a todos aqueles investigadores interessados nas pesquisas sobre história da educação.

Referências bibliográficas
MINUTI, R. Internet et le métier d’historien. Paris: PUF,2002,

VIDAL, D. G. Cultura e prática escolares: uma reflexão sobre documentos e arquivos escolares. Escola de Aplicação: arquivo da escola e a memória escolar. CD-ROM, FEUSP/FAPESP, 2004.

Notas

1. É possível citar, por exemplo, o projeto de pesquisa financiado pela FAPESP intitulado Uma história da educação matemática no Brasil, 1920-1960, no âmbito do qual foram produzidas bases dados como os três CD-ROM denominados “Os exames de admissão ao ginásio, 1931-1969”, com cerca de três mil provas de Matemática e de Português, realizadas por candidatos ao ingresso na atualmente denominada “Escola Estadual de São Paulo”, o primeiro ginásio oficial de São Paulo, fundado em 1894; e o CD-ROM a que se chamou “A matemática do ginásio: livros didáticos para as reformas Campos e Capanema”, que inclui um inventário analítico dos livros didáticos de matemática das décadas de 1930 a 1950.

2. Utilizamos o livro através de sua tradução do italiano para o francês, em 2002, feita por Nadia Mansouri, publicado pela PUF- Paris.

3. Esse material constituiu base para a pesquisa de mestrado de Rosemeiry de Castro Prado, defendida na PUC-SP, em 2003, intitulada “Do engenheiro ao licenciado: os concursos à cátedra do Colégio Pedro II e as modificações do saber do professor de Matemática do ensino secundário”. O trabalho constitui um dos produtos parciais do projeto “Estudos históricos sobre educação matemática no Brasil, 1950-2000”, financiado pelo CNPq. 4. Esses documentos foram utilizados por Jane Cardote Tavares, em sua dissertação de mestrado, defendida na PUC-SP, com título “A Congregação do Colégio Pedro II e os debates sobre o ensino de matemática”, em 2002.

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Paulo Alves de Lima

 

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