DOENÇA
VASCULAR PERIFÉRICA
A doença
vascular periférica (DVP) responsável pela insuficiência
arterial é o fator mais importante relacionado a evolução
de uma úlcera no pé. Em pacientes diabéticos, a
arteriosclerose e a esclerose da média são as causas mais
comuns da doença arterial. A arteriosclerose causa isquemia pelo
estreitamento e oclusão dos vasos. A esclerose da média
(esclerose de Moenckeberg) é a calcificação da
camada média produzindo um conduto rígido sem, no entanto,
invadir o lúmen arterial. Assim, a esclerose da média
não causa isquemia, mas o conduto arterial rígido pode
interferir de forma grave nas medições indiretas da pressão
arterial. Finalmente, a microangiopatia não deve ser aceita como
causa primaria de lesões na pele. A doença vascular periférica
está presente por ocasião do diagnóstico em 8%
dos pacientes diabéticos; 15% após 10 anos e 42% depois
de 20 anos.
Figura
15 - Amputação do 4 pododáctilo, necrose
do halux
FISIOPATOLOGIA
SINAIS E SINTOMAS DE DVP
TRATAMENTO DA DOENÇA VASCULAR PERIFÉRICA
FISIOPATOLOGIA
Os
fatores associados a elevada prevalência de arteriosclerose são
o fumo, a hipertensão e o diabetes. O acumulo de colesterol nas
paredes dos vasos é o passo crucial para a aterogênese. Durante
este processo, placas são formadas na camada íntima, as
quais podem ulcerar e produzir subseqüente trombose. Isto estreita
e obstrui as artérias reduzindo o fluxo sangüíneo (Hemorreologia)
e a pressão de perfusão nos tecidos periféricos.
O processo é, na sua maioria, segmentar, deixando segmentos distais,
como as artérias crurais ou pedais abertas e acessíveis
a reconstrução vascular. Após a obstrução
arterial, algumas alterações microcirculatórias ocorrem,
a menos que a obstrução seja compensada por vasos colaterais.
A
DVP pode ser considerada como um sinal da doença ateroesclerótica
geral. Assim o coração e as artérias carótidas
devem também ser examinadas em pacientes com DVP. Ainda não
se sabe precisamente porque os pacientes diabéticos tem uma maior
predisposição para desenvolver a doença ateroesclerótica
vascular, mas é possível que as alterações
nas lipoproteínas circulantes resultem em um perfil lipídico
mais aterogênico, com baixo colesterol HDL e elevação
nos triglicérides. O papel da hiperglicemia na aterogênese
é ainda menos claro e aberto a suposições.
Os fatores de risco para a
instalação da DVP incluem: predisposição genética,
idade, duração do diabete, fumo, hipertensão (sistólica
ou diastólica), hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, hiperglicemia,
obesidade de tronco, hiperinsulinemia, proteinúria, diálise
e medicamentos (ex. agentes inotrópicos ou beta bloqueadores).
SINAIS
E SINTOMAS DE DVP
Quando
os vasos colaterais compensam de forma adequada a obstrução
da artéria, pode ser que não haja sintomas em repouso, todavia,
quando a demanda pelo fluxo sangüíneo aumenta, por exemplo,
durante caminhadas, pode ocorrer a claudicação intermitente.
Os sintomas na fase final são dor em repouso, particularmente a
noite, e ulceração ou gangrena.
- CLAUDICAÇÃO
INTERMITENTE: A palavra claudicação
procede da palavra latina "claudicatio" que significa
manquejar, porém os pacientes com claudicação
não mancam, eles param para repousar. A dor associada a claudicação
intermitente é caracterizada por cãibra ou dor contínua,
freqüentemente na panturrilha. Ela ocorre ao andar e é
aliviada quando a pessoa interrompe a marcha, sem a necessidade de
sentar-se. A claudicação intermitente ocorre mais comumente
como dor na panturrilha, porém a obstrução vascular
mias alta (ex. na aorta) causará dor nas nádegas e na
parte superior das coxas e freqüentemente está acompanhada
de Impotência. Isso é conhecido como "Síndrome
de Leriche". A obstrução das artérias
ilíacas causa dor na porção inferior da coxa.
- PÉS
FRIOS:
É uma queixa comum em pacientes com insuficiência vascular
periférica, obrigando-os ao uso de garrafas de água
quente, almofadas aquecidas e compressas úmidas quentes. Essas
práticas podem ocasionar intensa queimadura do pé insensível
ao calor, devido à neuropatia periférica.
- DOR
NOTURNA:
É uma forma de neurite isquêmica que geralmente precede
a dor em repouso. Ela ocorre a noite, já que durante o sono
a circulação é geralmente do tipo central, com
diminuição da perfusão das extremidades inferiores.
A neurite isquêmica resultante torna-se intensa e interrompe
o sono.
- DOR
AO REPOUSO:
A dor em repouso, geralmente indica a presença de pelo menos
duas obstruções arteriais hemodinamicamente significantes.
Trata-se de uma dor persistente causada por isquemia do nervo. Apresenta
picos de intensidade, piora a noite e pode requerer uso de narcóticos
para seu alívio. Dores noturnas e ao repouso aliviadas quando
em posição pendente. Essa posição aumenta
o débito cardíaco, levando a menor perfusão das
extremidades inferiores e ao alívio da neurite isquêmica.
- AUSÊNCIA
DE PULSACÕES:
Caso a zona poplítea esteja obstruída, é possível
que haja diferença na temperatura da pele em ambas as áreas
patelares. A pele em torno do joelho, do lado isquêmico, muitas
vezes é mais quente, devido aos vasos colaterais que se formam
em torno da artéria poplítea obstruída.
-
PALIDEZ À ELEVAÇÃO:
A palidez do pé, provocada por sua elevação e
o retardo do enchimento capilar venoso são indicativos de isquemia.
-
DEMORA DO ENCHIMENTO VENOSO APÓS A ELEVAÇÃO:
Normalmente o tempo de enchimento venoso e capilar é inferior
a quinze segundos. Esse tempo pode ser prorrogado para minutos, quando
a extremidade está gravemente isquêmica. Um tempo de
enchimento capilar venoso além de quarenta segundos, indica
isquemia muito grave.
-
RUBOR NA POSIÇÃO PENDENTE:
1. As extremidades com DVP grave, apresentam rubor após a permanência
em posição pendente
2. Os pacientes com varizes também apresentam rubor na posição
pendente devido a estase venosa.
As
alterações isquêmicas da pele são caracterizadas
por pele fria, atrófica e brilhante, perda dos pêlos no dorso
dos pés e dedos, espessamento das unhas e freqüentemente infecções
fúngicas. As
unhas tendem a crescer mais lentamente quando a irrigação
sangüínea está diminuída. A medida que se instala
nova isquemia, o tecido subcutâneo se atrofia. A pele parece brilhante
e rigidamente esticada sobre o pé. Pode ocorrer ulceração
desses pés vulneráveis a pequenos traumatismos. A
DVP contribui para a amputação ao impedir o fornecimento
de oxigênio, nutriente (necessários para a cicatrização
das feridas) e de antibiótico para combater a infecção.
TRATAMENTO DA DOENÇA VASCULAR PERIFÉRICA
Em
um paciente com uma úlcera no pé, a estimativa de probabilidade
de cicatrização da lesão deve ser baseada em exames
clínicos e, se possível, em testes não invasivos.
A revascularização deve ser considerada quando:
-
A probabilidade de cicatrização for demasiadamente baixa
ou se o paciente apresentar dor isquêmica persistente e em repouso.
- A claudicação
intermitente ameaça as atividades profissionais do paciente
ou limita seu estilo de vida. Em todos esses casos, a árvore
arterial dos membros inferiores, incluindo as artérias pedais,
devem ser visualizadas.
Várias
técnicas podem ser utilizadas:
-
Na maioria dos serviços, realiza-se a arteriografia do membro
inferior a partir da técnica de Seldinger, combinada ou não
a angiografia de subtração digital. Caso não
se detectem sinais de doença vascular mais proximal, o exame
pode restringir-se a uma das pernas com punção da artéria
femural para limitar a quantidade do meio de contraste.
-
A arteriografia pode ser substituída ou complementada pela
angiografia, pela angioressonância magnética ou exames
com ecodoppler duplex. Estas técnicas, no entanto, ainda estão
sob avaliação e exigem experiência. A fim de evitar
a nefropatia pelo contraste, uma hidratação adequada
e o controle da glicemia antes, durante e após a angiografia
são obrigatórios.
A
reconstrução arterial pode ser realizada por procedimentos
abertos, tais como bypass, ou mais raramente, uma tromboendarterectomia
ou um procedimento intravascular geralmente utilizando-se um balão
de dilatação, angioplastia transluminal percutânea.
Os procedimentos intravasculares podem apenas ser realizados se as lesões
arteriais forem pequenas. O bypass geralmente é requerido em oclusões
longas. O uso da veia safena magna é superior aos enxertos sintéticos.
Relatos
mais recentes sugerem que a magnitude da durabilidade é semelhante
tanto entre pacientes diabéticos quanto nos não diabéticos.
O
procedimento de revascularizacão é tecnicamente possível
na maior parte dos pacientes que sofrem de isquemia crítica. Os
resultados publicados, tanto a curto quanto a longo prazo, tem sido excelentes,
portanto, uma abordagem mais incisiva aos procedimentos de revascularização
deve ser efetuada. Sempre que uma amputação em nível
maior for aventada, a opção da revascularização
deve ser primeiramente considerada.
A
terapia farmacológica, tendo como alvo a manutenção
da patência após a reconstrução vascular, é
controversa, embora o ácido acetil salicílico (AAS) seja
utilizado pela maioria dos cirurgiões vasculares. Um seguimento
cuidadoso dos enxertos venosos, por meio de ecodoppler duplex, durante
o primeiro ano após cirurgia, deve ser conduzido visando a detecção
e a correção de estenoses progressivas, como também
a prevenção de eventual oclusão. Tais medidas melhoram
a patência do enxerto.
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