NÍVEIS ESPECÍFICOS DA AMPUTAÇÃO OU DESARTICULAÇÃO
Se os critérios quanto a escolha do nível da amputação forem preenchidos e os fatores necessários a cicatrização da ferida forem avaliados adequadamente, nenhum nível de amputação do pé precisa ser excluído devido ao diabetes mellitus associado. O objetivo deve ser a amputação longitudinal, em vez da transversal, sempre que isto for possível. Apenas com o estreitamento em vez do encurtamento do pé, o preenchimento pós-operatório do calçado é, bastante facilitado. Os níveis específicos da amputação ou desarticulação, começando com o primeiro dedo do pé, serão analisados a seguir: DESARTICULAÇÕES
DOS DEDOS DOS PÉS A
desarticulação do segundo dedo do pé no nível
da articulação metatarsofalangiana geralmente acarreta
um problema secundário, devido a remoção do suporte
lateral que ele proporciona ao primeiro dedo. A deformidade do halux
valgo (joanete), é provável depois deste procedimento.
A
desarticulação na junção entre o tarso e
metatarso foi descrita, para os casos traumáticos por Lisfranic
em 1815, ao final das guerras napoleônicas. Este procedimento
também pode ser usado nos casos de infecção do
pé diabético, desde que o profissional seja muito seletivo,
pois a impossibilidade de controlar a infecção neste nível
coloca em risco o sucesso da desarticulação do tornozelo
de Syme. A operação de Lisfranic resulta na perda significativa
do comprimento da parte anterior do pé; portanto, é importante
preservar as inserções tendinosas dos músculos
peroneiro curto, peroneiro longo e tibial anterior, para manter o equilíbrio
muscular do pé residual.
RESULTADO
ESPERADO DA
DESARTICULAÇÃO TARSOMETATÁRSICA (LISFRANIC)
Este nível de amputação representa uma perda significativa do comprimento da parte anterior do pé , com redução proporcional da função de andar com os pés descalços. Para recuperar a função da marcha no final da fase ativa, é necessário acrescentar uma prótese ou órtese de tornozelo fixa muito bem adaptada que em seguida , é introduzida no calçado com solado basculante rígido.
Esta
desarticulação é realizada nas articulações
talonavicular e calcaneocubóide, deixando apenas a parte posterior
do pé (talo e calcâneo). Este procedimento pode ser usado
apenas ocasionalmente nos pacientes com infecções do
pé diabético, em virtude da sua proximidade da almofada
do calcanhar. Como não há inserções musculares
no talo, toda função de dorsiflexão ativa é
perdida por ocasião da desarticulação.
RESULTADO ESPERADO DA DESARTICULAÇÃO MESOTÁRSICA (CHOPART) Embora
esta desarticulação permita a sustentação
direta do peso na extremidade, não há possibilidade
de conservar a função deslizante intrínseca.
Devido a preservação da estabilidade
da almofada do calcanhar e de todo o comprimento da perna, o paciente
amputado pode ter pouca dificuldade de andar sem uma prótese,
ao contrario da amputação
no nivel de Syme, no qual a prótese é essencial a estabilidade
da almofada do calcanhar e ao comprimento igual ao das pernas.
Em
1843, James Syme, professor de cirurgia da University of Edinburgh,
descreveu sucintamente sua operação como "desarticulação
da articulação do tornozelo, com preservação
de um retalho do calcanhar, para permitir a sustentação
de peso na extremidade do coto". Como a almofada do calcanhar
é preservada, este procedimento pode ser considerado um tipo
de ablação parcial do pé. Sua indicação
principal é a impossibilidade de salvar um nível funcional
mais distal do pé infectado ou traumatizado com artéria
tibial posterior (fonte principal da irrigação sangüínea
do calcanhar) normal. Esta operação permite a estes
pacientes um retorno muito mais rápido à condição
de sustentação de peso do que a artrodese do tornozelo,
tendo em vista que não exige a fusão ou ancilose fibrótica
dos ossos.
Como
a desarticulação do tornozelo de Syme preserva a sustentação
da almofada do calcanhar ao longo das vias proprioceptivas normais,
é necessário treinamento mínimo para andar
com a prótese. Este nível também poupa mais
energia do que o nível transtibial.
Apesar
das vantagens funcionais inequívocas das ablações
parciais do pé e a despeito do desejo do cirurgião
de realizar amputações progressivas visando conservar
o maior comprimento possível, às vezes é
impossível salvar qualquer parte do pé. Se o cirurgião
achar que o pé é irrecuperável, deve-se realizar
uma amputação transtibial imediata. Ë importante
tentar preservar o maior comprimento possível e a adaptação
às próteses deve ser prioritária. O paciente
e sua família devem participar plenamente da decisão
e seguimento, visando aumentar as chances de reabilitação
ideal.
Uma prótese transtibial moderna bem adaptada pode proporcionar um grau surpreendente de função, desde que seja assegurado conforto adequado. Um pé com resposta dinâmica possibilita boa absorção dos choques com o contato do calcanhar , além de oferecer uma sensação de propulsão na fase estática final. Sempre
que não for possível salvar a articulação
do joelho, a desarticulação deste nível deve
ser cuidadosamente considerada como melhor nível disponível,
em vez da amputação transfemoral. Este procedimento
é mais simples e menos chocante , com perda mínima
de sangue e recuperação pós operatória
rápida, tendo em vista que quase nenhum músculo é
cortado. Mesmo que o paciente esteja irreversivelmente acamado e
limitado à cadeira , existem vantagens sobre o nível
transfemoral, incluindo-se a maior mobilidade no leito devido à
conservação da capacidade de virar-se e flexionar,
além do equilíbrio maior na posição
sentada e a transferência mais fácil entre varias superfícies
para sentar.
Depois
da amputação transfemoral, apenas cerca de 25% dos
pacientes conseguem usar adequadamente uma prótese, porque
o excesso de consumo energético é de 65% ou mais,
muito além do que muitos pacientes podem gerar sem riscos,
devido à doença cardiovascular. Contudo, se a amputação
transfemoral for inevitável, deve-se salvar todo o comprimento
que for possível cobrir com músculo
e pele, visando reduzir este gasto energético excessivo
e possibilitar uma marcha mais equilibrada.
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