UNIFESP/EPM

cebrid
Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicotrópicas

 

 COCAÍNA

1 – O que é a Cocaína?

2 – A Cocaína, o Crack, a Pasta da Coca, a Merla (ou Mela), a Farinha ou Pó, são todos a mesma coisa?

3 – Como é usada a Cocaína? 

4 – Por que usam Cocaína?
 
5 – Quem são as pessoas que usam Cocaína?
 
6 – Quantos usam Cocaína?
 
7 – O que a Cocaína faz no corpo após uma dose (efeitos Físocos Agudos)?
 
8 – O que a Cocaína faz no corpo com o uso contínuo (efeitos Físicos Crônicos)?
 
9 – O que a Cocaína faz com a mente após uma dose (efeitos Psíquicos Agudos)?

10 – O que a Cocaína faz com a mente com o uso contínuo (efeitos Psíquicos Crônicos)?

11 – O uso da Cocaína afeta o rendimento escolar?

12 – O uso de Cocaína leva ao uso de outras Drogas?

13 – Você reconhece quando alguém usa Cocaína?

14 – A Cocaína é usada como medicamento?

15 – Existe algum problema relacionado ao uso de Cocaína na gravidez?

16 – As pessoas ficam dependentes da Cocaína?

17 – As pessoas podem parar de usar a Cocaína?

18 – Há desenvolvimento de tolerância com a Cocaína?

19 – O que acontece se uma pessoa for surpreendida usando Cocaína?

21 – A Cocaína afeta a memória?

22 – A Cocaína tem ação sobre atividade sexual?


1- A cocaína é uma substância que estimula fortemente o sistema nervoso central e é extraída de uma planta
chamada
Erytroxylon coca ou simplesmente coca.


2- Todos estes nomes indicam diferentes preparações obtidas da planta coca; portanto todos estes produtos da coca
contem cocaína. A
pasta de coca e a merla, são produtos com muitas impurezas e a cocaína que neles existe está sob uma forma que chamamos de base (cocaína básica) insolúvel na água, mas que pode ser fumada. O mesmo ocorre com o crack que se apresenta em forma de pequenas pedras, que também tem a cocaína básica e é bastante fumada.

Já a farinha ou é a cocaína sob  a forma de um sal, cloridrato de cocaína que é solúvel na água. O uso do é por aspiração (“cafungar” ou cheirar, fazendo o pó entrar pelas narinas) ou por injeção endovenosa (injetar “pelos canos”).


3- A cocaína em pó (ou “farinha”) é, em  geral, utilizada por via intranasal, ou seja, por aspiração nasal, ou ainda por
via intravenosa, quando dissolvida na água. Não é muito comum, mas também pode ser usada oralmente. É possível, também, fumar (via pulmonar) a cocaína, mas não na forma de pó e sim de pedra, o crack. Ainda, a pasta de coca a merla, preparadas de forma diferente do crack, mas também contém cocaína sob forma de  base, podem ser fumadas.


4- A cocaína é usada por seus efeitos prazerosos. Ela provoca grande euforia e um prazer de difícil descrição. Além disso,
seu uso é atrativo visto levar as pessoas a
“perderem” medos e proporcionar sensações de poder. Mas estes efeitos permanecem por um curto período. Após isso a pessoa entra em contato com a realidade, o que pode gerar depressão e ânsia por nova dose da droga.


5- Os indivíduos que usam ou abusam da cocaína podem ser encontrados em todos os grupos raciais, geográficos
e profissionais. No passado, o uso de cocaína costumava ser associado a certos profissionais como executivos, artistas e atletas. Seu alto custo transformava a cocaína em droga de elite, restrita a pessoas que dispunham de renda considerável, visto que só existia a cocaína em pó que podia ser inalada ou injetada. Hoje, o baixo custo do crack permite que pessoas de classes sociais menos favorecidas tenham acesso à droga. Assim, o crack está presente entre meninos de rua, estudantes, jovens e adultos, não estabelecendo um grupo ou uma idade específica.


6- Em se tratando de uma droga ilegal, torna-se difícil especificar um número correto de usuário de cocaína. Em
levantamento sobre o uso de drogas entre estudantes de 1º e 2º graus em 10 capitais brasileiras, realizados pelo CEBRID em 1997, observou-se aumento do uso na vida de cocaína em oito capitais e do uso freqüente em seis. As estatísticas indicam que 2% da amostra brasileira de estudantes já fez uso de cocaína em algum momento da vida e 0,8% faz uso freqüente desta droga. Estes dados não são muito grandes (várias vezes menor do que ocorre nos Estados Unidos) mas chega a preocupar. Em termos de crack, é difícil detectar sua presença numa população escolar visto que aqueles que começam a usar este tipo de droga perdem qualquer vínculo escolar, já que a dependência do crack é muito severa. Mas a análise da população de meninos de rua em seis capitais brasileiras, em 1997, revelou que o crack mostra-se extremamente significativo em São Paulo, onde 47% dos entrevistados já fizeram uso pelo menos uma vez de tal substância.


7- Os efeitos físicos do uso de cocaína envolvem aumento do número de batimentos do coração e da pressão arterial,
aumento da temperatura corpórea e pupilas dilatadas.

Em casos agudos de intoxicação, a estimulação central profunda leva a convulsões e arritmias ventriculares  (o coração bate descompassadamente) e com disfunção respiratória que podem levar à morte.


8- Existem inúmeras complicações físicas associadas ao uso crônico da cocaína. Os distúrbios mais freqüentes são
os cardiovasculares, incluindo distúrbios no ritmo cardíaco e ataques do coração. A cocaína provoca ainda efeitos respiratórios como dor no peito e dificuldade respiratória, além de efeitos gastrointestinais como dores e náuseas. É importante ressaltar que o aparecimento de problemas pelo uso crônico irá depender da via de administração. Por
 exemplo, problemas nasais, como ruptura do septo nasal e perda do olfato, aparecem com aspiração crônica da cocaína. Distúrbios cardiovasculares aparecem em todas as vias de administração. No uso de crack há complicações respiratórias ainda maiores envolvendo bronquite, tosse persistente e disfunções severas.

A via endovenosa, além de aumentar o risco de overdose, propicia disseminação de infecções tais como hepatite B e C e AIDS.

Além disso, o uso crônico de cocaína, sob qualquer forma de uso, leva a uma degeneração dos músculos esqueléticos, num processo irreversível chamado rabdomiólise.


9- A cocaína causa uma excitação geral do organismo. Ela melhora o estado de alerta, os movimentos, acelera
os pensamentos, tira o sono e suprime o apetite. Isto ocorre por sua ação no Sistema Nervoso Central, interferindo com as reações químicas do cérebro.

O usuário tem uma sensação de poder, força e euforia. Mas a pessoa fica também irrequieta, tremula e impaciente. Devido à inquietação comete muitos erros mentais, como por exemplo, fazer cálculos. A duração destes efeitos depende da via de administração da droga. Quanto mais rápida a absorção, mais intensa é a sensação de prazer. Por outro lado, quanto mais rápida a absorção, menor é a duração dos efeitos. Além da sensação de prazer, a droga leva a temporária perda do apetite e do sono, torna a pessoa mais comunicativa.


10- O uso crônico e compulsivo da cocaína leva a conseqüências psicológicas, representadas por distúrbios
psiquiátricos. Depressão, ansiedade, irritabilidade, distúrbios do humor e paranóia (
“nóia”; sentir-se perseguido, vigiado, etc) são as queixas de ordem psicológica mais comuns. Entre outros problemas estão agressividade, delírios (principalmente os delírios persecutórios, onde a pessoa acredita que os outros estão tramando contra ela ou falando mal, etc) e alucinações (ver ou ouvir objetos e sons inexistentes). Quando a dependência se estabelece de forma significativa há perda do interesse por tudo que não estabeleça relação com uso da droga. O usuário vive para usar a droga.


11- Em geral, as pessoas que passam a fazer uso freqüente da cocaína passam a ter dificuldade de concentração e
perdem todo e qualquer interesse pelos estudos, pelos amigos e familiares. Assim, todo o rendimento escolar é prejudicado. No caso de envolvimento com crack é ainda mais comum o abandono dos estudos.


12- Não existem, atualmente, trabalhos científicos que estabeleçam uma relação entre o uso de diferentes drogas.
O que é possível constatar é que o uso de álcool e maconha, entre os usuários de crack, é muito comum, visto moderarem os efeitos desagradáveis da cocaína.


13- Existem algumas evidências físicas que refletem o uso freqüente da cocaína. O usuário perde muito peso em pouco
tempo e apresenta um aspecto frágil e doente. Devido a insônia, apresenta, também, olheiras profundas. Além disso é possível identificar alguns sinais mais sutis como: boca seca, dilatação das pupilas, olhar perdido, alucinações, narinas irritadas (no caso de aspiração) ou queimaduras nos lábios, na língua e no rosto pela proximidade da chama do cachimbo (para crack). No caso de uso intravenoso as marcas de picadas pelo corpo são visíveis. Mas é preciso entender que nem todas as pessoas que apresentam tais aspecto físicos são usuárias de cocaína!


14- A cocaína é um potente anestésico local. Ela chegou a ser utilizada como medicamento até o início do século XX, para vários males. Ela já foi utilizada em cirurgias oculares (gotejando-se no olho como anestesia reversível da córnea), dentárias e auditivas. Atualmente não tem uso médico.


15- Sim. Bebês nascidos de mães que abusaram de cocaína durante a gravidez geralmente nascem de partos prematuros, com baixo peso e estatura e circunferência craniana menor que o normal. Há ainda altas taxas de malformação congênita e mortalidade perinatal. Há também evidências que crianças que receberam cocaína através das mães (quando ainda estavam no útero das mesmas) podem ter queda do rendimento escolar quando maiores, envolvendo distração e dificuldade de concentração.


16- Sim! A cocaína é uma droga com alto poder de gerar dependência. Uma vez tendo experimentado a cocaína existem pessoas que não podem mais determinar ou controlar a extensão com que irão continuar usando a droga.

No caso da cocaína em pó não existe um tempo definido para o estabelecimento da dependência; mas no caso do crack a dependência tende a surgir logo nas primeiras “pipadas”(ato de fumar o cachimbo contendo o crack) . O crack é uma das drogas mais potentes e indutoras de dependência.


17- Sim! Algumas pessoas conseguem parar de usar a cocaína por conta própria, sem necessidade de intervenção de profissionais especializados, o que é raro. O mais comum é deixar o uso após tratamento. A quantidade de cocaína consumida, a regularidade e a via de administração são fatores importantes na escolha de um tratamento.


18- Sim! O uso contínuo de cocaína gera uma tolerância à droga. Os usuários vão aumentando a dose para sentir os
mesmos efeitos.


19- No Brasil, usar ou traficar droga é crime. Para um usuário a lei prescreve seis meses a dois anos de detenção e se
aplica a qualquer forma de uso da
 cocaína.


20- A lei nº 6368, de outubro de 1976, chamada de “lei antitóxico”, no seu artigo 12, classifica como traficante de droga
tanto a pessoa que possui laboratórios clandestinos que fabricam a cocaína como aquela que simplesmente a oferece a um amigo, ainda que gratuitamente.


21- O uso de cocaína afeta a memória recente, prejudicando informações recebidas sob o efeito da droga.


22- Por muito tempo a cocaína teve uma reputação de afrodisíaco mas, atualmente, sabe-se que tal fama esta relacionada à desinibição e “diversão” causada pela droga. Na realidade é possível observar que a droga, com o tempo, passa a diminuir a vontade relativa ao sexo. A perda do impulso sexual e a incapacidade de se relacionar sexualmente são as principais queixas dos usuários freqüentes de cocaína; com o crack isto ocorre com praticamente todos que usam.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
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