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Boletim CEBRID
Número 48 Abril a Junho 2003

Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas

ASSUNTOS DO DIA

1. Informações falaciosas e incorretas! Críticas infundadas! Um desserviço ao Brasil. O CEBRID protesta.

Um cidadão que ocupou cargo importante no Governo passado, no que certamente aprendeu algo sobre o problema do uso inadequado e de dependência de drogas, anda fazendo críticas incabíveis sobre o “I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil – 2001”.

São críticas que revelam desconhecimento técnico sobre o tema, tais como:

  • em uma emissora de rádio: “um trabalho de apertar a campainha e entrevistar quem aparece na porta”.
  • em entrevista recente a uma revista: “... uma pesquisa com consultas feitas nos domicílios...”. “Imagine-se o que cada morador respondeu. Sobre o vizinho”.

Cabe aqui um breve relato da metodologia utilizada pelo CEBRID no I Levantamento Domiciliar. Cada cidade pesquisada é dividida nos chamados Setores Censitários, com 200 a 400 lares cada. Por sorteio são escolhidos os setores a serem pesquisados. Nestes setores serão sorteados os lares a serem visitados; e obtém-se de cada lar a relação dos residentes entre 12 e 65 anos de idade. Um destes residentes é em seguida sorteado e com este marca-se o dia da entrevista. O procedimento estatístico não permite que outra pessoa, que não a sorteada, seja entrevistada. E, caso após a 3a visita não se consiga ainda a entrevista, aquele sorteado é retirado da amostra e não será substituído. Ou seja, nenhum vizinho é consultado.

Não sabemos, portanto, de onde o nosso cidadão fez a deselegante afirmativa: “Imagine o que cada morador respondeu. Do vizinho”.

E, ao mesmo tempo que revela este desconhecimento técnico, ainda mostra um preconceito contra as coisas feitas no Brasil. Pois no mesmo artigo faz a afirmativa “... 15 milhões de britânicos utilizaram cannabis uma vez nas suas vidas”; e “...pelo levantamento, 33% dos jovens europeus já usaram maconha pelo menos uma vez na vida”.

Ora, os dados acima foram obtidos por levantamentos por meio de técnicas semelhantes à utilizada pelo CEBRID no I Levantamento Domiciliar Brasileiro (o termo utilizado em todos os levantamento é Lifetime use). Portanto, até se poderia pensar que o nosso cidadão não aceita como válido nenhum estudo feito por brasileiros...

Nosso cidadão demonstra ainda desconhecimentos inaceitáveis para quem ocupou importante cargo ao comentar sobre determinados temas. Talvez entusiasmado pelo que aprende nas visitas ao continente europeu, aqui chegando diz à imprensa impropriedades tais como:

  • afirmar que o ice é a nova ameaça ao Brasil; sendo que esta droga é conhecida há cerca de um século e não é praticamente utilizada no Brasil;
  • sugerir ainda o uso de metadona para tratamento de dependentes brasileiros; sendo que esta droga só serve para tratar dependentes de opiáceos (heroína principalmente), praticamente inexistentes no Brasil;
  • fala em dependência física e dependência psicológica, não sabendo ainda que esta divisão de dependência foi abandonada pela OMS há anos; o que não deveria acontecer para quem posa de grande entendedor do assunto.

E em seu deslumbramento por tudo que é estrangeiro, compara os feitos da Holanda, Reino Unido, Suíça etc. com o que ocorre no Brasil, como se todos estes países fossem iguais em cultura, costumes, tradições. Isto chega a ser temerário quando, no seu artigo na revista, investe contra alguns papéis de seda europeus que podem ser utilizados no preparo de cigarros de maconha. Esta ligeireza em satanizar coisas pode levar a conseqüências sérias, quando exercida em outras circunstâncias socioculturais. Basta lembrar o acontecido no Brasil há vários anos. Uma das maiores lojas brasileiras de roupas infanto-juvenis resolveu presentear, na época de férias, seus fregueses mirins com uma agenda, com o título Para uma boa viagem, tendo dentro folhas de papel de seda. Estas eram destinadas a jogos de origami durante as viagens de férias. Mas, pela mentalidade distorcida de alguns, a loja foi denunciada à justiça, pelo “crime” de incentivar o uso de maconha.

Fatos como estes podem até se encaixar à perfeição no ditado de George B. Shaw: “Quem sabe faz; quem não sabe ensina”; no caso é só substituir na frase a palavra ensina pela palavra confunde.

 


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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
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