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Boletim CEBRID
Número 43 Fevereiro 2001

Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas

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2.
Socorro! Chame a polícia! Muito bem! Parabéns à Polícia Federal, à Procuradoria da República no Rio Grande do Sul e à Justiça Federal.
A incrível história de um comércio de anoréticos que nos foi contada (com documentos) pela SODECOM - Sociedade de Defesa dos Consumidores de Medicamentos.

O fato ocorreu em Porto Alegre, mas estendeu-se também até São Paulo e Tocantins: uma quadrilha interestadual, envolvendo onze pessoas das quais sete estão presas, produziu e comercializou milhões de cápsulas contendo dietilpropiona ou anfepramona, fenproporex e diazepam (além de um lixo terapêutico), sem licença, sem autorização, sem prescrição médica, (sem nada, nada) por anos seguidos, até ser apanhada pela Polícia Federal, em 1998.

A história começou em Porto Alegre, 1997, com denúncia anônima de que chegava à cidade um carregamento de cocaína. A Polícia Federal realmente apreendeu a carga, mas esta continha quase 100 (cem) mil cápsulas de cor verde com as substâncias anteriormente citadas. Vale lembrar que elas são drogas controladas pelas nossas leis (e também pelas Nações Unidas).
A quadrilha foi desbaratada e funcionava da maneira como segue abaixo:

  • Em Araguaína (Tocantins) uma farmácia de manipulação denominada X produziu as cápsulas. Um dos proprietários, sem formação técnica, aprendeu a fazer as fórmulas emagrecedoras (fenproporex, dietilpropiona e diazepam, além de cáscara sagrada, fulcus, ginseng, hidroclorotiazida, espirulina) em outra farmácia, de seu sogro, um médico. Separando-se da filha do médico, esse indivíduo associa-se a duas outras pessoas, fundando a farmácia X. A sócia majoritária da farmácia X era uma farmacêutica bioquímica; associa-se também à quadrilha, além de outros, uma segunda farmacêutica, esta trabalhando na representação do Ministério da Saúde em Araguaína, funcionária da Secretaria de Saúde do Estado do Tocantins e com importante posto na Diretoria do Sindicato da Indústria Química e Farmacêutica do Estado do Tocantins.
  • Os proprietários da farmácia X tiveram ainda o desplante, em 1996, de solicitar à Divisão de Medicamentos da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde uma autorização para a manipulação das substâncias controladas, não obtendo sucesso. No entanto, a negativa de autorização em nada inibiu a quadrilha de continuar seu nefando negócio.

Nota do CEBRID: Cabe esclarecer que, naquele ano, Solange A. Nappo dirigia a Divisão de Medicametnos e E. A. Carlini era o Secretário Nacional da Vigilância Sanitária. Ambos, com o apoio decidido do então Ministro Prof. Adib Jatene, não concederam autorização especial para farmácias de manipulação lidarem com drogas indutoras de dependência, em que pese muitas pressões em contrário.

  • Chegando em Porto Alegre, as cápsulas eram vendidas por outra empresa, esta contando com cerca de 80 vendedores espalhados pelo Rio Grande do Sul e cidades de outros Estados. Nesses locais, cada frasco, contendo 30 cápsulas, era vendido a R$25,00 sem qualquer controle, pois sequer a notificação B de receita era exigida, dado não constar no rótulo dos frascos a verdadeira composição da fórmula: o consumidor incauto e iludido, pensando tratar-se de produto natural, não sabia que os referidos produtos necessitavam de prescrição médica. O negócio ficou tão lucrativo que os membros da quadrilha em Porto Alegre constituíram várias empresas como forma de "lavar" o referido lucro, tudo com o fim de eximirem-se total ou parcialmente do pagamento de imposto de renda (trecho do documento oficial que recebemos).
  • Em São Paulo, a farmácia X conseguia comprar, sem dificuldades, a dietilpropiona, o fenproporex e o diazepam de uma firma Y, que eram vendidos como sendo agar-agar, metionina, vitamina C etc., conforme consta em notas fiscais. Essas compras forneciam as substâncias para o preparo semanal de cerca de 300.000 cápsulas; oito funcionários trabalhavam na farmácia X nessa tarefa. As cápsulas eram remetidas para Porto Alegre pelo correio via Sedex. Por mês, produziam cerca de 1.200.000 (um milhão e duzentas mil) cápsulas.

Nota do CEBRID: Este número equivale a cerca de 40.000 pessoas tomando diariamente as cápsulas.

O ofício da SODECOM que nos encaminhou a documentação acima, traz as palavras finais do seu Secretário Geral, Antonio de Almeida:
"Anexamos processo junto à Polícia Federal que condenou uma grande rede de empresas não-idôneas composta por uma pequena indústria farmacêutica nacional, uma rede de farmácias de manipulação e um atacadista de sais para fabricação de remédios...
... cabe a nós que representamos os consumidores de medicamentos deste país discutir o assunto até a exaustão, exigindo das empresas que comercializam este tipo de substância que se reúnam e discutam uma forma de proibir totalmente o uso de anfetaminas no Brasil."


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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
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