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Número 34
Junho/98

Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicotrópicas


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EPIDEMIOLOGIA

9. Ah! Então o que se propala sobre o grande uso de heroína é exagero? Parece que sim!

Um relatório ao CONFEN que deveria ser lido por todos, como exemplo de pesquisa séria: Relatório do Estudo do Uso de Heroína no Brasil, pelo Conselheiro-Titular do CONFEN, Dr. Francisco da Costa Baptista Neto.

Este trabalho, excelente na realidade, desmistifica o que vem sendo alardeado por algumas pessoas e por setores da imprensa: de que já haveria uma quase epidemia de uso de heroína no Brasil. Em síntese este estudo mostra:

1. foram enviados 227 questionários com perguntas pertinentes à Ministérios, Polícia Federal, Secretarias de Saúde e Segurança Pública dos Estados e Centros de Tratamento. Foram recebidas 92 respostas.

2. Entre 1995 e 1997 foram apontados 34 usuários de heroína, dos quais 07 eram pessoas provenientes do Exterior. Em 1997 foram relatados os seguintes números de usuários: Belo Horizonte 02, Porto Alegre 03, São Paulo 07 , Santos 02 e Rio de Janeiro 03. Total 17 usuários de heroína.

3. A Polícia Federal apreendeu 5,6 gramas em 1995 e 0,16 gramas em 1996.

4. Em relação ao número elevado de usuários de heroína que existiria em Santos, fato muito alardeado na imprensa nacional, o relatório do CONFEN é bastante crítico, assim analisando a situação:

· O Centro de Apoio e Recuperação de Dependentes de Drogas – CACTUS, de Santos, relatou a existência de 42 casos, sendo que destes 22 foram diagnosticados em 1997. Entretanto quando indagado sobre estes números aquele Centro assim informou:

"Quando perguntado sobre o regime de atendimento se ambulatorial ou interno, informaram que houve atendimento a 01 paciente interno e que não trabalham em regime ambulatorial Face a dúvida, fizemos contato telefônico com o coordenador do centro de triagem; o mesmo nos informou que na verdade não houve atendimento aos pacientes referidos, e sim que algumas pessoas entrevistadas referiram uso de heroína e como os mesmos não se internaram, não houve registro. Informou também, que não pode afirmar se os mesmos tinham verdadeiramente feito uso de heroína, pois, não existiu tempo para tal comprovação. Para efeitos deste trabalho, decidimos só considerar o paciente registrado. Mesmo porque, é no mínimo estranho, que tal centro sozinho tenha atendido mais casos de heroína que os outros 50 centros que responderam ao nosso questionário."

5. O estudo questiona também informações oriundas do Rio de Janeiro:

"Outra observação refere-se às declarações do Núcleo de Estudos Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas – do Rio de Janeiro – NEPAD.

Enquanto oficialmente informaram que não há registro de casos de usuários viciados em heroína no NEPAD, em 17 de março deste ano, no jornal O Globo, o Dr. .................., que se intitula, Fundador do NEPAD, refere ter atendido "dois ou três pacientes em 1995 e dez em 1997." Não se sabe se os mesmos foram atendidos em consultório privado, onde não é aconselhável tratar pacientes viciados em drogas, principalmente heroína, ou, se em regime interno, em outro local que não o NEPAD, que ajudou a fundar."

6. O relatório comenta ainda a resposta da Federação Brasileira de Amor Exigente:

Com relação à Federação Brasileira de Amor Exigente, recebemos ofício em que informa ter reproduzido o questionário e enviado para 300 grupos em todo o Brasil. Em que pese só ter obtido resposta de 14 núcleos, todos negativos quanto ao atendimento a usuários de heroína, atribui o baixo número de respostas à possível "inexistência de usuários dessa droga em grupos de apoio de Amor Exigente".

7. Diante dos dados, o Conselheiro Dr. Costa Baptista Neto, assim pondera:

"Na análise dos resultados deste estudo, constata-se que em 55 centros de tratamento foram registrados 05 casos em 1995, 07 casos em 1996 e 17 casos em 1997. Enquanto as Secretarias de Justiça e de Segurança Pública, de praticamente todos os estados brasileiros, à exceção de Brasília, não fizeram apreensão de heroína, a Polícia Federal efetuou uma apreensão de 5,60 g em 1995 e 950g em 1998.

Então me pergunto:

  1. Onde estão os usuários tão alardeados pela mídia e por alguns colegas?
  2.  
    Se a droga é tão devastadora, onde estão sendo tratados?
  3.  
    Como achá-los?

E, finalmente concluiu:

"Sugiro que o Conselho Federal de Entorpecentes – CONFEN, mantenha-se alerta em relação ao uso de heroína no Brasil, mantendo-se vigilante e preparado para um eventual aumento de consumo. É possível que no momento a "indústria" da heroína, como qualquer empresa esteja fazendo uma análise do mercado, testando a viabilidade de abrirem um novo polo consumidor. Como qualquer produto, é possível que a propaganda e o marketing estejam presentes.

Sugiro que o CONFEN repita anualmente o levantamento ora realizado e solicite ao Ministério da Saúde maiores facilidades para aquisição e prescrição da metadona, único medicamento eficaz no tratamento da Síndrome da abstinência do usuário da heroína."

Nota:

1. O CEBRID deseja congratular-se com o Conselheiro Costa Baptista Neto por este trabalho, que, finalmente, faz um diagnóstico real da situação, tão necessário para trabalho consequente na delicada área das toxicomanias.

2. O CEBRID, ainda, apoia a sugestão de que seja feito anualmente tal levantamento como uma maneira segura de monitorar o que pode acontecer com a heroína no Brasil.

3. Finalmente, o CEBRID informa que já foram registrados em 1996 na SVS-MS medicamentos à base de metadona.

 


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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
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