Relato da vivência - Grande Sertão: veredas, por Deise Galassi

Texto:  Deise Galassi
07 de maio de 2013

Relato da vivência do livro: Grande Sertão: veredas de Guimarães Rosa

A mim, sempre que releio Grande Sertão:  Veredas -  de Guimarães Rosa, é tarefa árdua, embora de deleite. Muitos neologismos, complexidade de ideias, estrutura narrativa serpenteante, sem capítulos, sem tempo linear  preciso, mais tempo onírico, mítico, menos, muito menos tempo cronológico.  No entanto, esse encadeamento de dificuldades vem  anunciar a metáfora do caminho que seguiremos: a travessia do seco sertão, labiríntico, sem roteiros, perigoso “viver é muito perigoso”,   sem margem, nem  garantias.  No sertão da vida,   viver   é movimento, é atravessar o sertão, atravessar é lutar. Mas porque será que se atravessa?? Qual o sentido disso tudo?? Diante de tantos desafios,  “carece de ter coragem”.

Para se ler esta obra,  penso, também: “ carece de ter coragem”.

E no LabHum, soubemos, no final de 2012,  que o livro a nós proposto,  1º semestre de 2013,  seria  este.  Começando março,  adentramos  a leitura, digo o sertão,  chefiados pelo  “chefe da jagunçagem” Dante Gallian. Tarefa íngreme: ir sertão adentro, nesta complexa cartografia linguística, filosófica, psíquica e social. Mas, com ajuda de todo o grupo,  fomos fazendo essa travessia- tessitura, desvendando  significados, ressignificando ideias.

Desta forma, temas aparentemente antitéticos como:

deus e o diabo;

o bem e o mal,

hetero e  homossexualidade,

medo e coragem,

liberdade e aprisionamento,

amor e  ódio,

vida e morte

raiva e apaziguamento,

crime e santidade,

derrota e  sucesso,

egoísmo e altruísmo,

movimento e congelamento,

o sacro e o profano

tudo junto, um caldo sem limite definido, sempre no fio da navalha,  “tudo é e não é, ao mesmo tempo” como nos diz  Riobaldo, personagem mítico que nos  mostra  como é possível viver  oposições aparentemente tão antitéticas em  sínteses tão humanas.

Neste labirinto  roseano,  estendemos tais reflexões para nossas próprias vidas.   Não, não se tratou  de terapia em grupo, cujo pretexto desencadeador fosse a literatura, mas, a partir dela, reflexões que pudessem desconstruir ideias e recriar outras.    Ficou a possibilidade, a todos nós,  de, sentindo-nos concernidos na obra que lemos: “o sertão está em toda parte e cabe todos os nomes”,  fazermos muitas reflexões de ordem pessoal e ou grupal.  Ou como “o real não está na saída nem chegada, ele se dispõe para a gente no meio da travessia” , foi neste vir-a-ser  que fomos construindo  isto.

Como nos diz  Riobaldo:

“a vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber porque, e desde aí perde o poder de continuação – porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada”.  No grupo do Labhum deu-se isto: um  remexer coletivo, com ressignificações individuais,  ou então, podemos pensar que  “o capinar é sozinho e a colheita é coletiva”. Eu, da minha parte, observo que  colher em grupo, me tem sido, ao longo da vida,  muito rico.

Fica aqui o meu agradecimento ao Labhum, em especial ao Dante e ao grupo pela experiência vivida.

 


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