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Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas |
PUBLICAÇÕES E EVENTOS CIENTÍFICOS2. Pesquisa CEBRID (responsável: Solange A. Nappo): Relação entre o uso de crack por mulheres e o desenvolvimento de comportamentos de risco para o contágio com o HIV e outras DSTs A incidência do uso de crack vem aumentando progressivamente em nosso meio, principalmente no Estado de São Paulo, como comprovam vários estudos. Os efeitos característicos do crack geram dependência instalada pouco tempo depois de uso regular, fissura incontrolável e necessidade de consumo de grandes quantidades da droga, obrigando o usuário a despender de somas de dinheiro que nem sempre possui, podendo levá-lo a lançar mão de estratégias que podem colocá-lo em diversas situações de risco. Trabalhos internacionais mostram que mulheres usuárias de crack vendem seu corpo (sexo) pela droga ou por dinheiro para obtenção desta, expondo-se a riscos associados a práticas sexuais inseguras, expondo-se ao contágio com hiv e outras dsts. No Brasil a existência desse comportamento ainda não foi descrita em seus detalhes para que possa ser avaliado do ponto de vista de risco à vida dessas mulheres. Diante destas observações, o cebrid e a Coordenação Nacional de dst/aids (Ministério da Saúde) com a colaboração do Centro de Referência de dst/aids de São Paulo e São José do Rio Preto, prosan e proad, investigaram, por metodologia qualitativa e quantitativa, possíveis relações entre o uso de crack e o desenvolvimento de comportamentos de risco para o contágio de hiv(aids)/dsts. O estudo qualitativo possibilitou desvendar os múltiplos e complexos padrões de comportamento humano que expõem mulheres usuárias de crack a risco diante das dsts/aids. Foram aplicadas entrevistas em profundidade em 75 mulheres usuárias de crack
residentes Observou-se um comportamento sexual contrastante entre profissionais do sexo e "prostituta por droga", demonstrando que a prostituição por droga dá-se em maiores condições de risco, envolvendo negociações sob o efeito da fissura, maior número de parceiros e maior freqüência diária de relações sexuais, além de um uso inapropriado de preservativo; 58% das mulheres da amostra usam preservativo apenas em algumas relações sexuais vaginais. No sexo anal e oral não fazem uso por acreditarem que essas modalidades sexuais não envolvem risco de contágio de dsts. A maioria das entrevistadas vende o corpo diariamente, realizando em média quatro programas por dia, existindo relatos de até nove programas por dia, fato este que permite obtenção de dinheiro suficiente para bancar o uso de crack, com o qual gastam cerca de 50 a 100 reais diários. Os ferimentos na boca, devidos ao uso de cachimbos inapropriados para protegerem-nas do calor necessário à sublimação, são comuns. A prática de sexo oral sem preservativo, associada a esses ferimentos, é ingrediente perigoso para contágio com dst/aids. A troca de cachimbo é outra possibilidade de contaminação, já que a existência desses ferimentos pode permitir contágio pela presença de secreção contaminada no cachimbo. No entanto, elas não se preocupam com qualquer tipo de contágio proveniente das bolhas originadas por queimadura nos lábios, não tomando nenhuma precaução diante desse risco. Uma segunda amostra foi analisada para verificar a prevalência de dst/aids em uma população, de ambos os sexos, de usuários de crack (n=60) e de usuários de cocaína aspirada (n=42). Nessa amostra foi realizada sorologia para hepatites b e c, hiv e sífilis. A sorologia apresentou-se positiva para 20% da amostra usuária de crack (8% hiv, 25% hepatite c e 67% hepatite b) e para 12% da amostra usuária de cocaína (todos os positivos relativos à hepatite b). A análise dos dados qualitativos, somados às evidências quantitativas, oferecerá subsídios para a adoção de medidas preventivas ao contágio com hiv e outras dsts nessa população.
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UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SÃO PAULO |