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Boletim CEBRID
Número 45 Junho a Agosto 2001

Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas

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EPIDEMIOLOGIA

6. Como estamos usando e controlando os medicamentos psicotrópicos no Brasil?

Visando a diagnosticar a prática de prescrição e de dispensação de medicamentos psicotrópicos, o CEBRID realizou um levantamento das prescrições retidas durante um ano em drogarias, farmácias de manipulação, postos públicos e hospitais, de dois municípios do Estado de São Paulo. A coleta das receitas/notificações foi realizada em parceria com as Vigilâncias Sanitárias dos municípios analisados.

Ao todo foram processadas 108.215 prescrições, sendo 76.954 de benzodiazepínicos, 26.930 de anorexígenos, 3.540 de opiáceos e 791 de outros. Os benzodiazepínicos mais freqüentes foram: diazepam (31.644), bromazepam (16.911) e clonazepam (7.929) e, entre os anorexígenos, a dietilpropiona (14.800) e o femproporex (10.942).

As mulheres, em geral, receberam mais prescrições em comparação aos homens, especialmente para os anorexígenos, numa relação dez vezes maior nas prescrições de dietilpropiona e femproporex. As poucas farmácias de manipulação (N=6) chegaram a movimentar mais prescrições do que as drogarias (N=49). Apesar da OMS recomendar um período máximo de uso de 1 mês para os ansiolíticos e de 3 meses para os anorexígenos, foram encontrados 225 casos de pacientes que haviam recebido mais de 12 prescrições, com quantidades equivalentes a um tratamento de 24 meses com psicotrópicos.

Foi observado um caso de um único médico com 7.678 prescrições de psicotrópicos no ano (cerca de 30 por dia útil), praticamente todas as receitas dispensadas em uma mesma farmácia de manipulação. Também foi detectada uma série de erros nas prescrições analisadas. A ausência de dados nas notificações foi o erro mais freqüente, especialmente nos estabelecimentos públicos. No entanto, também foram encontrados vários outros tipos de erros, como notificações ilegíveis, com numeração oficial repetida, com datas incoerentes. Algumas haviam sido emitidas por médicos sem registro no CRM-SP, até mesmo em casos de médicos que já haviam falecido há anos.

Os resultados confirmam a ocorrência de um uso irracional e uma série de práticas inadequadas que envolvem a prescrição desses medicamentos no Brasil e, portanto, indicam a necessidade de uma ampla revisão no atual sistema de controle dessas substâncias no país.

O estudo está sendo submetido à publicação em periódico científico, com o título "Análise da prescrição e dispensação de medicamentos psicotrópicos em dois municípios do Estado de São Paulo", dos autores: Noto AR, Carlini EA, Mastroiani PC, Alves VA, Galduróz JCF, Kuroiwa W, Csizmar JB, Costa AC, Araújo MA, Hidalgo SR, Assis D e Nappo SA.


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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
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