6. Como estamos usando e controlando
os medicamentos psicotrópicos no Brasil?
Visando a diagnosticar
a prática de prescrição e de dispensação
de medicamentos psicotrópicos, o CEBRID realizou um levantamento
das prescrições retidas durante um ano em drogarias,
farmácias de manipulação, postos públicos
e hospitais, de dois municípios do Estado de São Paulo.
A coleta das receitas/notificações foi realizada em
parceria com as Vigilâncias Sanitárias dos municípios
analisados.
Ao todo foram processadas
108.215 prescrições, sendo 76.954 de benzodiazepínicos,
26.930 de anorexígenos, 3.540 de opiáceos e 791 de
outros. Os benzodiazepínicos mais freqüentes foram:
diazepam (31.644), bromazepam (16.911) e clonazepam (7.929) e, entre
os anorexígenos, a dietilpropiona (14.800) e o femproporex
(10.942).
As mulheres, em
geral, receberam mais prescrições em comparação
aos homens, especialmente para os anorexígenos, numa relação
dez vezes maior nas prescrições de dietilpropiona
e femproporex. As poucas farmácias de manipulação
(N=6) chegaram a movimentar mais prescrições do que
as drogarias (N=49). Apesar da OMS recomendar um período
máximo de uso de 1 mês para os ansiolíticos
e de 3 meses para os anorexígenos, foram encontrados 225
casos de pacientes que haviam recebido mais de 12 prescrições,
com quantidades equivalentes a um tratamento de 24 meses com psicotrópicos.
Foi observado um
caso de um único médico com 7.678 prescrições
de psicotrópicos no ano (cerca de 30 por dia útil),
praticamente todas as receitas dispensadas em uma mesma farmácia
de manipulação. Também foi detectada uma série
de erros nas prescrições analisadas. A ausência
de dados nas notificações foi o erro mais freqüente,
especialmente nos estabelecimentos públicos. No entanto,
também foram encontrados vários outros tipos de erros,
como notificações ilegíveis, com numeração
oficial repetida, com datas incoerentes. Algumas haviam sido emitidas
por médicos sem registro no CRM-SP, até mesmo em casos
de médicos que já haviam falecido há anos.
Os resultados confirmam
a ocorrência de um uso irracional e uma série de práticas
inadequadas que envolvem a prescrição desses medicamentos
no Brasil e, portanto, indicam a necessidade de uma ampla revisão
no atual sistema de controle dessas substâncias no país.
O estudo está
sendo submetido à publicação em periódico
científico, com o título "Análise da prescrição e
dispensação de medicamentos psicotrópicos em
dois municípios do Estado de São Paulo", dos autores: Noto AR, Carlini EA, Mastroiani
PC, Alves VA, Galduróz JCF, Kuroiwa W, Csizmar JB, Costa
AC, Araújo MA, Hidalgo SR, Assis D e Nappo SA. |