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Número 35
Setembro/98

Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicotrópicas


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EPIDEMIOLOGIA
 

10. Os sexos e a cocaína: por que as mulheres usam menos? É só cultural? (Lukas, S.E. et al. Sex differences in plasma cocaine levels and subjective effects after acute cocaine administration in human volunteers. Physchopharmacology in press).

 Em estudo recente desenvolvido pelo NIDA (National Institute on Drug Abuse-USA), foram avaliadas uma série de respostas à cocaína por homens e mulheres, concluindo-se que há diferenças importantes entre os sexos em relação à ação da cocaína. O estudo consistiu no seguinte: em dias separados, voluntários cheiraram uma dose única de cocaína e placebo, em quantidades iguais, considerando o peso corpóreo. Os homens foram avaliados uma vez, mas as mulheres foram avaliadas em dois diferentes tempos durante o ciclo menstrual: na fase folicular e novamente na fase lútea (essas fases, correspondem respectivamente antes e depois da ovulação). Os pesquisadores encontraram que nos dois pontos avaliados nas mulheres, estas demonstraram uma menor sensibilidade à cocaína que o homem, traduzindo-se esse achado em: os homens tinham mais episódios de euforia, sensações boas, disforia e sensações ruins. Os homens também desenvolveram um maior aumento da pressão arterial e frequência cardíaca. Embora mulheres e homens tivessem recebido doses equivalentes de cocaína, as mulheres apresentaram níveis sangüíneos mais baixos da droga, sendo que esses níveis foram ainda mais baixos na fase lútea do ciclo menstrual.

Os pesquisadores atribuíram, em parte, essa diminuição dos níveis sangüíneos de cocaína nas mulheres, à diferença de velocidade com que se processa a metabolização da droga. A cocaína é transformada no organismo, em metabólitos inativos pela ação de enzimas conhecidas como esterases. Embora os homens tenham níveis mais altos dessas enzimas no plasma sangüíneo, as mulheres têm níveis mais altos de um tipo específico dessas esterases nos glóbulos vermelhos do sangue. A enzima localizada nos glóbulos, metaboliza a cocaína muito mais ativamente que a enzima localizada no plasma. Outra explicação seria que, durante o ciclo menstrual ocorrem alterações físicas que podem contribuir para uma diminuição da sensibilidade das mulheres à cocaína intranasal. O aumento de certos níveis hormonais durante a fase lútea causa um aumento da secreção de muco na membrana nasal. Esse aumento de muco age como uma barreira para a absorção da cocaína quando as mulheres cheiram a droga durante essa fase do ciclo menstrual.

Esses achados, segundo os pesquisadores, ajudam a explicar, pelo menos dentro de uma perspectiva fisiológica, porque a prevalência de cocaína entre as mulheres é tradicionalmente muito mais baixa que entre os homens.

Essa sensibilidade menor associada ao alto preço da cocaína pó, cria um forte empecilho às mulheres ao uso continuado dessa droga, já que para sentirem os mesmos efeitos que ocorrem nos homens, elas necessitariam muito mais cocaína. Por outro lado, esse mesmo fato (necessidade de mais droga) pode levar algumas mulheres tornarem-se usuárias pesadas de cocaína. Esses achados levam-nos a repensar sobre as estratégias de tratamento utilizadas. A maioria delas é conduzida em homens e diante dessas diferenças de ação da droga, seria prudente avaliarmos se também são apropriadas às mulheres.


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