Número25 |
Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas |
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TRATAMENTO
Nesta data internacional, 26 de junho, o UNDCP (United Nations Drug Control Programme) programou sessão solene no Senado Federal, com a participação do Presidente da República, do Presidente do Senado e demais autoridades.
O UNDCP homenageou quatro personalidades, a saber: Lair M. Guerra da Divisão de Doenças Sexualmente Transmissíveis/AIDS (DST/AIDS) do Ministério da Saúde, Dr. Domingos Savio N. Alves da Coordenação de Saúde Mental (COSAM) do Ministério da Saúde, E. A. Carlini, da Secretaria de Vigilância Sanitária, Ministério da Saúde/CEBRID da UNIFESP, e Luiz Matias Flach, presidente do CONFEN do Ministério da Saúde.
Na ocasião o Senhor Ministro da Saúde fez o pronunciamento
que transcrevemos abaixo, dada a relevância do mesmo.
"Muitos países em desenvolvimento não
têm controle adequado sobre os benzodiazepínicos
- Boletim da OMS - 1983"
"Em muitos países ... uma larga proporção
das drogas licitamente importadas ou localmente manufaturadas
são desviadas para canais ilícitos e ficam facilmente
disponíveis para uso impróprio ou ilegal".
"Os problemas das drogas psicotrópicas são
subestimados pelo público em geral enquanto que a atenção
é focalizada nos aspectos mais espetaculares visíveis
e portanto "de maior sensacionalismo" sobre
a cocaína e a heroína".
Nações Unidas, Memorandum: 9 Fevereiro 1993.
Estas três fases servem de guia para a Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde direcionar suas ações em relação a tão grave ameaça à saúde pública.
Enquanto o controle das drogas ditas ilícitas (cocaína, maconha, etc) tem merecido a atenção constante do Ministério da Justiça, o Ministério da Saúde através da Secretaria de Vigilância Sanitária, preocupa-se em diagnosticar o consumo das drogas ditas lícitas (benzodiazepínicos; anfetaminoides), mas indutoras de dependência.
A realidade assusta: o consumo de benzodiazepínicos atinge proporções muito grandes, cerca de 3.140.000 de doses ingeridas diariamente; o consumo de anfetaminoides para emagrecer ultrapassa a astronômica cifra de mais de 20 toneladas/ano; isto significa que cerca de 1.747.000 de pessoas, a grande maioria mulheres, vinham tomando estas drogas, indutoras de dependência, todos os dias.
Diante deste quadro o Ministério da Saúde, vem tomando as seguintes providências de controle:
Com estas medidas a Secretaria de Vigilância do Ministério da Saúde, vem enfrentando esta ameaça à saúde pública dentro de um enfoque eminentemente preventivo.
Por outro lado, a Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde vem se preocupando com os aspectos epidemiológicos e educacionais, em relação à segmentos de nossa população, principalmente a adolescência e a escola.
Levantamentos nacionais sobre o uso de drogas na adolescência mostram um quadro preocupante. Recente estudo realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID/UNIFESP) em dez capitais brasileiras demonstrou que o uso na vida de drogas psicotrópicas atingiu 22,8% dos estudantes de 1º e 2º graus, variando de 17,8% em Belém até 27,3° em São Paulo. Mais preocupante ainda é a constatação de que o uso de maconha, cocaína e anticolinérgicos cresceu estatisticamente. Por exemplo, o uso na vida de maconha em 1987 entre os estudantes era de 2,8%, passando a 4,5% em 1993. Constatou-se ainda, um fato relevante: das 8 drogas mais consumidas na vida, apenas a maconha, que aparece na 4ª posição, pode ser considerada ilegal. O uso de medicamentos com fins ilícitos pelos estudantes apresentou dados significativos. Assim, 5,3% dos estudantes já utilizaram ansiolíticos e 3,1% desses usaram anfetamínicos sem prescrição médica. As drogas legalizadas como o álcool e o tabaco são as campeãs de consumo entre estes estudantes. Observando-se que 18,6% destes fazem uso freqüentes de álcool (definido como 6 vezes ou mais no último mês que antecedeu a pesquisa), o uso freqüente de tabaco foi de 5,3%.
A situação mostra-se mais ainda dramática entre os meninos(as) em situação de rua. Levantamento de 1993 realizado pelo CEBRID em cinco capitais brasileiras aponta que no Rio de Janeiro 57,0% desses meninos(as) já fizeram uso na vida de drogas psicotrópicas, chegando a 90,5% em Recife, sendo que os solventes foram as drogas mais utilizadas nas cinco capitais pesquisadas.
É importante observar que o uso diário nessa
população é expressivo sendo que, por exemplo,
em São Paulo 24,5% e em Recife 42,0% fizeram uso diário
de solventes; a maconha foi usada diariamente por 23,0% desses
meninos(as) em Recife e a cocaína teve uso diário
de 6,0% em São Paulo.
Foi realizada entre os dias 8 e 11 de junho p.p. a primeira reunião do comitê da Organização Mundial da Saúde responsável pelo projeto Políticas Públicas para bebidas alcoólicas em sociedades em desenvolvimento Alcohol Policies in Developing Societies Project - APDS). Este comitê, coordenado pelo sociólogo Robin Room, diretor de pesquisa da instituição canadense Addiction Research Foundation, conta com dez participantes, entre eles a socióloga Beatriz Carlini Cotrim (CEBRID - Depto. de Psicobiologia da Universidade Federal de São.Paulo - antiga EPM). Outros participantes são: Dr. Oye Gureje (Nigéria); Dr. Charles Parry (África do Sul); Dr. Shekhar Saxena (India); Dra. Maria Helena Medina-Mora (México); Dr. MacMarshall (antropólogo norte-americano que vem estudando o consumo de álcool na Micronésia, Papua Nova Guine, entre outros); Dr. David Jernigan (sociólogo que pesquisa a ação das indústrias de bebidas alcoólicas no Terceiro Mundo); Dr. Klaus Makela (Finlândia); Dr. Juha Partenen (sociólogo finlandês com estudos sobre o consumo de álcool no Japão e países africanos). Também estiveram presentes na reunião Dra. Maristela Monteiro e Dr. Alan Lopez, representantes da Organização Mundial de Saúde.
A missão deste comitê será de, durante dois anos de trabalho, editar um livro que compile e discuta pesquisas científicas sobre o consumo de bebidas alcoólicas e problemas associados em países em desenvolvimento. O livro pretende discutir também estratégias bem e mal sucedidas de controle do consumo de bebidas e de seus problemas, no cenário de países não desenvolvidos.
O projeto Alcohol Policies and the Public Good é um desdobramento indireto de um outro projeto desenvolvido pela Oficina Européia da OMS. Neste caso, dezessete cientistas de países desenvolvidos trabalharam sob a coordenação do Dr. Griffith Edwards, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de Londres, para rever e discutir criticamente a abundante bibliografia disponível nestes países sobre consumo de álcool, problemas associados a ele e possíveis políticas públicas a serem adotadas. O resultado deste esforço coletivo resultou na publicação do livro Alcohol Policy and the Public Good, em 1994.
Esta publicação vem sendo considerada um marco histórico nas discussões sobre o assunto, na medida em que defende com fortes argumentos que: a) as taxas de consumo de álcool das diversas sociedades são historicamente mutáveis; b) as estatísticas de problemas associados ao consumo de álcool são sensíveis às variações da taxa global de consumo de álcool c) políticas públicas adequadas culturalmente podem apresentar resultados animadores no controle do consumo e/ou dos problemas associados a bebidas alcoólicas.
Tais achados, aparentemente pueris, são na verdade um apelo para que as visões fatalistas sejam repensadas. Em particular as idéias prevalentes durante muito tempo de que não vale a pena tentar diminuir as taxas globais de consumo de álcool de uma sociedade pois esta diminuição não afetará a taxa dos problemas associados ao uso de bebidas e que políticas públicas de controle da produção, comercialização e consumo de bebidas estão, via de regra, fadadas ao fracasso.
É neste contexto de novos panoramas teóricos que
a presente comissão foi constituída e realizou sua
primeira reunião. A proposta de trabalho para o comitê
dos países em desenvolvimento é de, nos próximos
dois anos, desenvolver um exercício semelhante ao do comitê
europeu, mas tendo em mente as especificidades sociais, econômicas
e políticas dos países agora reunidos.
Compilação de trabalhos nacionais
Durante os próximos quatro meses, a pesquisadora Beatriz Carlini-Cotrim, integrante do comitê, tem grande interesse em receber trabalhos nacionais publicados ou não, relacionados ao projeto descrito acima. Tais contribuições, caso atendessem a critérios metodológicos básicos, poderiam ser citados no relatório sobre bebidas alcoólicas no Brasil, a ser apresentado na próxima reunião do comitê (Janeiro de 1997, em Genebra, Suíça).
Há particular interesse em investigações relacionadas a:
a) a associação entre estilos/padrão de ingestão de bebidas e a ocorrência de problemas sociais e/ou de saúde (por ex: acidentes, homicídios, cirroses hepática, etc.)
b) estudos sobre mudanças no padrão do consumo de álcool ou nos problemas associados ao consumo de álcool com o passar do tempo.
c) mudanças do consumo de álcool diante de mudanças sociais ou econômicas: aumentos de impostos, legislações, aumento do poder aquisitivo, maior disponibilidade de bebidas, etc.
d) estudos históricos e antropológicos sobre o consumo de bebidas alcoólicas nos mais diversos segmentos da sociedade brasileira.
Cabe ressaltar que estudos de pequena envergadura, mas corretos do ponto de vista metodológico, são muito benvindos.
Quem quiser enviar publicações, resumos, manuscrito, etc, favor enviar para:
Beatriz Carlini Cotrim
Universidade Federal de S.Paulo
CEBRID - Depto. Psicobiologia
Rua Botucatu, 862 1º andar
04023-062 São Paulo - SP
Por outro lado, pesquisas recentes mostram que, atualmente, São
Paulo é a capital brasileira que tem um maior consumo (e
problemas) com a cocaína. No entanto, em franca contradição
com estes achados estatísticos, os meios de divulgação
brasileiros consideram o Rio de Janeiro como a capital do vício
de cocaína.
Cópias disponíveis no CEBRID.
Neste trabalho foi empregado a pesquisa etnográfica para caracterizar os usuários de Crack na cidade de São Paulo. Foram entrevistados 21 usuários dessa droga e caracterizado entre outros aspectos os dados sócio-demográficos, o consumo da droga e suas conseqüências. O estudo mostra que o uso do Crack leva a um isolamento social, negligências com as necessidades básicas com o corpo, quebra dos relacionamentos sociais e familiares. Além disso a instalação da dependência se dá de modo muito rápido.
Cópias disponíveis no CEBRID.
Numa iniciativa pioneira a FHDF, em colaboração com a coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde, percorreu todos os Serviços de Emergência dos hospitais da rede pública coletando informações e sugestões sobre o tratamento da intoxicação aguda ou da síndrome de abstinencia produzidas pelo uso de drogas psicotrópicas.
As três primeiras páginas da obra, apresentam um rápido sumário sobre os principais sintomas e sinais de uma intoxicação aguda ou da síndrome de abstinência dos três grupos de drogas (sem distinguir aspectos peculiares de cada droga): depressoras, estimulantes e perturbadores da atividade do SNC.
Nas 16 páginas seguintes são dados em detalhes todos aspectos concernentes ao álcool: rotina de atendimento, sintomas e sinais, diagnóstico diferencial, tratamento farmacológico, cuidados de enfermagem, etc., tanto de intoxicação aguda como da síndrome de abstinência.
Finalmente nas três páginas finais é apresentada uma tabela com informações de 17 centros do DF dedicados ao tratamento.
Cópias da publicação: solicitar ao CEBRID ou dirigir-se diretamente à Fundação Hospitalar do Distrito Federal da Secretaria de Saúde do Distrito Federal.
Caso haja interesse em receber cópias dos materiais citados neste Boletim, solicitamos depósito em conta bancária no valor de R$ 0,15 por página (já incluídas despesas de embalagem e correio), sendo que o valor mínimo para qualquer remessa postal é de R$ 5,00. Enviar correspondência discriminando o material desejado, juntamente com cópia do depósito bancário, para: