Disciplina de Neurologia Experimental

Correspondência: Cícero Galli Coimbra - Médico Neurologista e Professor Livre-Docente
Departamento de Neurologia e Neurocirurgia - Universidade Federal de São Paulo

Em defesa da administração de doses elevadas de riboflavina associada à eliminação
dos fatores desencadeantes no tratamento da doença de Parkinson do tipo esporádico
Sofrimento emocional e consumo excessivo de carne vermelha
como desencadeantes da doença de Parkinson

Cicero Galli Coimbra e Virgínia Berlanga Campos Junqueira

G) Resposta quanto ao conteúdo de carne versus proteína na dieta dos pacientes

Em suas críticas publicadas na edição do mês de setembro de 2004 do Brazilian Journal of Medical and Biological Research, Ferraz, Quagliato e outros declaram:

    "Patients who were instructed to refrain from red meat should be warned about receiving another source of protein to prevent malnutrition. It is well known that protein, especially neutral amino acids, in the small intestine and blood stream competes with the intestinal absorption and with the brain penetration of levodopa (2,3). Thus, it may be speculated that the putative motor improvement found in PD patients under dietary protein restriction could be attributed to the increased bioavailability of levodopa in the brain. To minimize this bias, the authors should have recommended to their patients not to take their oral levodopa doses together with protein intake in the evaluation prior to vitamin B2 administration and to dietary intervention."

Em português:

    "Os pacientes que foram instruídos a evitarem a carne vermelha devem ser avisados a receberem outra fonte de proteína para prevenção da desnutrição. É bem conhecido que as proteínas, especialmente amino-ácidos neutros, no intestino delgado e na corrente sanguínea competem com a absorção intestinal."

No sítio eletrônico da Academia Brasileira de Neurologia reiteram as mesmas afirmações ao declararem:

    "O grupo que recebeu dieta sem carne vermelha deveria ser compensado com a garantia de um aporte maior de outra fonte de proteína para evitar a desnutrição. Além do mais, é sabido que a presença de proteínas no tubo digestivo e na corrente sangüínea de parkinsonianos que fazem uso do medicamento padrão para a doença de Parkinson, a levodopa, têm diminuídas a absorção e a entrada dessa medicação no sistema nervoso. Portanto, a melhora dos sintomas pode ser atribuída ao maior rendimento do efeito da levodopa. O correto seria pedir para que todos os pacientes antes da primeira avaliação (antes da vitamina B2 e da abstinência de carne vermelha) tivessem restrito o uso de dieta protéica a períodos longe das tomadas da levodopa para evitar o falseamento dos resultados."

Nessas declarações de Ferraz, Quagliato e outros, verifica-se novamente a confusão entre carne vermelha e conteúdo total de proteínas na dieta, tal como se verifica ao analisar-se a referência (já comentada na parte "D" deste documento) que fizeram ao trabalho de Abbott et al [2003], quando a situação SITUAÇÃO "C", foi caracterizada. Naquela ocasião Ferraz, Quagliato e outros citaram o estudo de Abbott et al [2003] (onde nenhuma diferença quanto ao conteúdo total de proteínas foi encontrada na dieta dos portadores da DP em comparação com a dieta dos não portadores) como se esse dado fosse conflitante com o elevado consumo de carne vermelha relatado no estudo de Coimbra e Junqueira [2003].

Evidentemente, não há como orientar-se o paciente a não consumir carne vermelha sem explicar-se ao mesmo o que é, e o que não é carne vermelha. Não há como fazê-lo sem que se desfaça a crença inverídica (fomentada algumas vezes pela propaganda feita por alguns setores da industria frigorífica) de que a carne suína seja carne branca. Em outras palavras, orientar-se o paciente a não consumir carne vermelha implica necessariamente em avisá-lo que, entre os diversos tipos de carnes, somente o consumo de carne branca de aves e peixes é permitido durante o tratamento. Implica em avisá-lo de que o consumo de vísceras, mesmo de aves, não é permitido.  Implica em explicar-se que o consumo de embutidos (exceto aqueles produzidos a partir da carne branca de aves) também não é permitido, sendo permitido, no entanto, o consumo (entre os "fiambres" e "frios") de queijos e outros derivados de leite. Por outro lado, é evidentemente impossível que algum paciente tenha confundido "carne vermelha" com "ovos". Como já foi explicado neste documento, a aderência dos pacientes à dieta (assim como às altas doses de riboflavina), tal como foi a eles explicitada, foi avaliada em cada consulta, o que motivou a exclusão de alguns casos que não seguiam o tratamento proposto. No entanto, a enumeração de cada um desses itens em um artigo científico não seria adequada, por representar uma redundância que, não somente se contrapõe à necessidade de economia de espaço, mas que também não faria justiça à capacidade de compreensão da quase totalidade dos leitores do Brazilian Journal of Medical and Biological Research. Dessa forma, caracterizando-se, mais uma vez, a SITUAÇÃO "A" na crítica de Ferraz, Quagliato e outros, apenas foi afirmado, na descrição da metodologia do estudo de Coimbra e Junqueira [2003], de forma suscinta e objetiva que:

    "Because the PD patients had a higher consumption of red meat (beef and pork) than sex-matched controls (19 healthy non-consanguineous relatives or neighbors of similar age recruited for controlling the dietary habits), all PD patients were required to eliminate all red meat from their diets."

Em português:

    "Devido ao fato de que os pacientes apresentavam um elevado consumo de carne vermelha (carnes bovina e suína) do que os controles pareados conforme o sexo (19 parentes não consangüíneos ou vizinhos de idade similar recrutados para o controle dos hábitos referentes à dieta), todos os pacientes portadores de doença de Parkinson foram solicitados a eliminar toda a carne vermelha da sua dieta."

Paralalelamente, tal como se encontra também descrito no artigo original (SITUAÇÃO "A"), o paradigma de tratamento sintomático (doses e horários de medicações como a levodopa, bem como a sua relação temporal com a alimentação) não foi alterado durante a supressão da carne vermelha da dieta associada a altas doses de riboflavina, de tal forma que modificações do tratamento sintomático não viessem a influenciar na avaliação periódica da capacidade motora durante o tratamento:

    "The symptomatic drugs for PD in use included L-DOPA with carbidopa (200/50 mg tablets), L-DOPA with benserazide hydrochloride (200/50 mg tablets), biperiden (2 or 4 mg tablets), amantadine hydrochloride (100 mg tablets), selegiline (5 mg tablets), and pramipexole (0.25 or 1.0 mg tablets) taken alone or in diverse combinations. The treatment paradigm with symptomatic drugs for PD for each patient when the study began was maintained."

Em português:

    "As medicações sintomáticas para a doença de Parkinson que já se encontravam sendo utilizadas incluiam L-DOPA com carbidopa (comprimidos de 200/50 mg), L-DOPA com hidrocloreto de benserazida (comprimidos de 200/50 mg), biperideno (comprimidos de 2 ou 4 mg), hidrocloreto de amantadina (comprimidos de 100 mg), selegilina (comprimidos de 5 mg), e pramipexol (comprimidos de 0.25 ou 1.0 mg). O paradigma de tratamento com drogas sintomáticas para a doença de Parkinson que já se encontrava em uso foi mantido."

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