Disciplina de Neurologia Experimental

Correspondência: Cícero Galli Coimbra - Médico Neurologista e Professor Livre-Docente
Departamento de Neurologia e Neurocirurgia - Universidade Federal de São Paulo

Em defesa da administração de doses elevadas de riboflavina associada à eliminação
dos fatores desencadeantes no tratamento da doença de Parkinson do tipo esporádico
Sofrimento emocional e consumo excessivo de carne vermelha
como desencadeantes da doença de Parkinson

Cicero Galli Coimbra e Virgínia Berlanga Campos Junqueira

E) Resposta quanto ao questionamento de que a administração de doses elevadas de vitamina B2 (riboflavina) tais como aquelas administradas aos portadores da doença de Parkinson do tipo esporádico [Coimbra e Junqueira, 2003] sejam potencialmente tóxicas

Em suas críticas publicadas na edição do mês de setembro de 2004 do Brazilian Journal of Medical and Biological Research, Ferraz, Quagliato e outros declaram:

    "We do not know if there were adverse effects or if the patients experienced worsening of their clinical status."

Em português:

    "Nós não sabemos se ocorreram efitos adversos ou se os pacientes apresentaram piora do seu estado clínico."

No sítio eletrônico da Academia Brasileira de Neurologia reiteram as mesmas afirmações ao interrogarem:

    "…Houve piora dos sintomas? Houve efeitos colaterais?"

RESPOSTA: Ao proporem tal questionamento, Ferraz, Quagliato e outros omitiram-se (SITUAÇÃO "A") de considerar o fato de que os níveis plasmáticos de FAD e EGR-AC (preliminarmente encontrados alterados, demonstrando a deficiência de vitamina B2) foram apenas corrigidos para os valores normais, não sendo provocada hipervitaminose B2, tal como encontra-se descrito no estudo de Coimbra e Junqueira [2003]:

    "Normalization of the plasma concentrations of riboflavin and EGR-AC values was confirmed after 1 month of treatment (from 106.4 ± 34.9 to 179.2 ± 23.0 ng/ml, and from 1.40 ± 0.25 to 1.11 ± 0.08, N = 9, respectively)."

Em português:

    "A normalização das concentrações plasmáticas de riboflavina e dos valores de EGR-AC foi confirmada após um mês de tratamento (de 106.4 ± 34.9 para 179.2 ± 23.0 ng/ml, e de 1.40 ± 0.25 para 1.11 ± 0.08, N = 9, respectivamente)."

A possibilidade que a correção de uma hipovitaminose claramente documentada (não a indução de uma hipervitaminose) possa haver provocado "efeitos colaterais" ou "piora do estado clínico" é evidentemente indefensável, e comentários acerca da ausência de efeitos colaterais foram adicionados ao relato de Coimbra e Junqueira [2003], na pressuposição que os leitores certamente teriam a atenção apropriadamente focalizada no fato de que a busca da retomada da homeostasia interna relativa ao metabolismo da vitamina B2, claramente, não pode provocar efeitos adversos.

Factualmente, não foram observados quaisquer prejuízos ao estado clínico dos pacientes submetidos ao estudo, mas apenas os benefícios relatados. O receio manifesto por Ferraz, Quagliato e outros é comparável ao temor de que a correção da deficiência tiamínica no caso da Síndrome de Wernicke-Korsakoff possa provocar efeitos colaterais adversos.

Enfatize-se que as doses elevadas de riboflavina administradas por via oral apenas compensaram a baixa eficiência dos mecanismos de absorção desse micronutriente, sendo eleita a dose de 30 mg a cada 8 horas após a verificação de que a quantidade de riboflavina ingerida na dieta dos pacientes portadores da doença de Parkinson do tipo esporádico era normal - indicando a deficiência de absorção como causa da alteração metabólica. Torna-se, assim, o estado da riboflavina nesses pacientes comparável ao descrito para 10-15% da população geral por Anderson et al [1994] - sendo apenas corrigível através de uma dose oral de 24-30 mg, conforme demonstraram aqueles mesmos autores em outro estudo [Anderson et al, 1979].

Ademais, mesmo desconsiderando-se (apenas por hipótese) que a ausência de hipervitaminose encontra-se documentada no estudo em questão [Coimbra e Junqueira, 2003], evidencia-se o receio manifesto por Ferraz, Quagliato e outros como meramente elucubrativo, pois que, mais uma vez, não se encontra fundamentado em qualquer estudo que haja demonstrado efeitos adversos provocados por doses elevadas de riboflavina administradas pela via oral, mesmo em indivíduos com dotados de capacidade normal de absorção para esse micronutriente (SITUAÇÃO "B").  Além da ausência de toxicidade das vitaminas hidrossolúveis ser um fato largamente conhecido no meio médico, a simples leitura de uma revisão como a de Bates [1997] ter-lhes-ia demonstrado a impossibilidade de defenderem tal proposta:

    "Large, multigram doses given orally are tolerated without toxicity. Protection is afforded by limitation on absorption at high intakes."

Em português:

    "Doses largas, ao nível de múltiplas gramas administradas por via oral são toleradas sem toxicidade. A proteção é garantida pela limitada absorção observada na ingestão de doses elevadas."

Portanto, sendo múltiplas gramas toleradas sem toxicidade pela via oral, a administração das doses empregadas no estudo de Coimbra e Junqueira [2003] (30 miligramas) não poderia provocar qualquer dano, como de fato não provocou.

O trabalho de Zampleni et al [1996], especificamente voltado para o intervalo de doses (2 a 6 dezenas de miligramas) ao qual pertence aquela utilizada por Coimbra e Junqueira [2003], demonstra que, à medida que se eleva a dose administrada, a absorção reduz-se proporcionalmente, de forma que a dose absorvida eleva-se apenas discretamente à medida que a dose de 20 mg é duplicada e triplicada em indivíduos normais (o que sequer é o caso dos pacientes objeto do estudo, que apresentavam baixa capacidade de absorção desse micronutriente, evidenciada pela baixa concentração plasmática de FAD e elevado EGR-AC associados a uma oferta nutricional normal).

Doses bem mais elevadas (400 mg/dia) do que aquelas empregadas no estudo de Coimbra e Junqueira [2003] foram recentemente administradas a pacientes portadores de enxaqueca na ausência de efeitos colaterais [Schoenen et al, 1994; Schoenen et al, 1998]. Ademais, doses elevadas de riboflavina protegem os tecidos nervoso e cardíaco contra insultos oxidativos [Betz et al. 1994; Christensen, 1993; Kotegawa et al, 1994].

Ao contrário do que sugeriram Ferraz, Quagliato e outros, a diferença (12 pacientes) entre os indivíduos portadores da doença de Parkinson que tiveram o seu estado da vitamina B2 avaliado através dos níveis plasmáticos de FAD e EGR-AC (31 pacientes) e o número de pacientes que completaram 6 meses consecutivos de avaliação (19 pacientes) não se deve ao abandono do tratamento por toxicidade relacionada à correção da hipovitaminose B2.  Foram apenas incluídos no estudo do efeito da correção da hipovitaminose B2 associada à eliminação da carne vermelha da dieta os pacientes que completaram os seis meses sem descontinuidade ou irregularidade do tratamento e sem interrupção da avaliação neurológica [Coimbra e Junqueira, 2003]. Entre os 12 pacientes, foram excluídos, antes de completarem os seis meses de acompanhamento, 2 pacientes porque apresentaram fraturas provocadas por quedas da própria altura, as quais impossibilitaram e interromperam a avaliação motora, e 1 paciente porque faleceu em decorrência de carcinoma metastático da tireóide; os 9 pacientes restantes foram excluídos porque não aderiram regularmente ao tratamento (o que foi confirmado pela não correção dos níveis de FAD e EGR-AC), ou porque, à época em que o relato foi enviado para publicação, haviam iniciado o tratamento apenas recentemente (os autores, no entanto, houveram por bem incluir a sua avaliação laboratorial no relato, devido a importância ilustrativa da ausência de sequer um único caso com FAD e EGR-AC normais dentre 31 pacientes avaliados, portadores de doença de Parkinson do tipo esporádico).

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