2018 - Laboratório do Olhar: A fotografia contemplativa como experiência em humanização em saúde

Pesquisador: Yuri Bittar

Resumo:

O objetivo deste projeto é pensar e experimentar o potencial humanizador da fotografia e das práticas contemplativas no ensino em saúde, na forma de um curso/disciplina optativa, intitulado Laboratório do Olhar. Como humanizador aqui entende-se a melhora de qualidade de vida e a “ampliação da esfera do ser”, uma busca por sentir, pensar e agir mais humanos, através das humanidades e experiências estético-reflexivas. A partir da experiência de nossa pesquisa anterior sobre o poder humanizador das humanidades, em especial da literatura, do projeto Humanidades, Humanização e Narrativas (CeHFi), que indica que essa força vem na verdade da narrativa, e da experiência do Centro Mente Aberta com Mindfulness, questionamos como, e se, a fotografia como narrativa e como atividade contemplativa (Mindfulness), poderia ter o mesmo efeito. Pesquisas teóricas e práticas já nos mostraram fortes indícios de que tanto a narrativa como as práticas contemplativas tem forte impacto humanizador, e pretendemos com esta atividade explorar e mostrar como a junção de fotografia, narrativa e Mindfulness em uma atividade prática, funcionará ou não como uma prática humanizadora.

Fundamentação Teórica

 

· Este projeto deriva de uma experiência prática, e de uma pesquisa de doutorado “Laboratório do Olhar: A fotografia contemplativa como experiência em humanização em saúde” cuja fundamentação segue abaixo:

O projeto “HUMANIDADES, NARRATIVAS E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE” (Gallian, 2014, diponível em http://www2.unifesp.br/centros/cehfi/portal/index.php?option=com_content&view=section&id=4&Itemid=2 ), no qual esta pesquisa está inserida, através de uma extensa investigação, já demonstraram como a narrativa em forma de literatura tem potencial humanizador. Assim buscamos dar um passo além, procurando entender o potencial narrativo da fotografia, e suas possibilidades de uso dentro de um projeto de humanização em saúde.

Compreendemos “as Humanidades não como um simples sinônimo de Ciências Sociais, mas como fonte desencadeadora de experiências estéticas e reflexivas, que envolvem as dimensões afetivas, intelectivas e volitivas do ser humano” (Gallian, 2014), sendo assim instrumentos eficientes para promover a humanização, não como processo técnico-perfectibilista, mas como um movimento, um aprofundamento, objetivando a “ampliação da esfera do ser” (colocar referência). Já sabemos que a literatura nos permite essa experiência interpelativa (Bittar..., 2012), então ao propor o uso de outra linguagem, como a fotografia, precisamos averiguar o potencial desta para desencadear esse mesmo processo.

Se uma foto tem potencial (puctum) de causar identificação, e a narrativa fotográfica amplifica essa possibilidade, queremos propor um momento para as pessoas que estão no cotidiano da saúde exercitem sua capacidade de identificação com o outro, o humano. Mais ainda, um simples “gosto / não gosto” esgota rapidamente a experiência, seria preciso uma oportunidade de “argumentar” os humores, como uma forma de expandir a imagem, algo que abarque cada individualidade, mas não de forma a reduzi-la (BARTHES, p.32).

“Ao examinar uma mensagem fotográfica, o interpretante está construindo mais um entendimento a respeito de si mesmo e do outro, de suas formas de agir, viver, relacionar-se, de suas práticas, olhando para a fotografia como uma das portas de penetração em um cotidiano social que não é o dele ou como uma estrada por onde ele pode voltar para refazer e reconhecer o seu percurso social.” (Nobre, ?, p.10)

Dentro da educação médica (assim como em outras áreas) a “estratégia do pensar visual” (Reilly) além de empolgar os participantes, que ao analisar imagens descobrem suas cores, texturas e formas, os leva ainda a descobrir muito mais, a partir das observações dos outros participantes. Assim acreditamos que o trabalho em grupo e em roda, a partir da fotografia, pode muito bem colocar a “roda em movimento”.

Se identificamos uma patologia (estresse, falta de experiência de vida e/ou falta de reflexão sobre as experiências vividas, falta de identificação com o outro), propomos um remédio, a fotografia como narrativa, uma forma de trazer a vida para arte e a arte para a vida (Karr e Wood, 2011).

Humanização como a Ampliação da Esfera do Ser

Tomando como base a noção de humanização, não como um conjunto específico de competências e habilidades, mas como um processo contínuo de “ampliação da esfera do ser”, tal como a caracteriza Teixeira Coelho (2001) a partir da obra de Montesquieu, observamos, através dos testemunhos e manifestações dos participantes, que a experiência propiciada pelo LabHum apresenta efetivo impacto humanizador.

Apresentando-se, portanto, como um espaço de encontro com as humanidades, como “recuperador” ou “fomentador” da leitura; como espaço de mergulho ou encontro com a própria interioridade, no âmbito afetivo e intelectivo; como espaço de encontro com o outro, na dimensão do aprendizado da escuta; como espaço de ampliação da esfera do ser e abertura para novas dimensões da realidade e, por fim, como espaço determinador de mudanças e transformações de ordem profissional e pessoal, o LabHum responde efetivamente às exigências de uma autêntica experiência humanizadora, dentro de um contexto acadêmico em Saúde.

O poder da narrativa está, portanto, nesse processo interpelativo e ampliador, que pretendemos verificar se está presente também na fotografia.

A Experiência

“A experiência e o saber que dela deriva são o que nos permite apropriar-nos de nossa própria vida.” (Bondía, 2002. P.27)

Um conceito essêncial em nossa pesquisa é o de experiência. Se a “experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca” (Bondía , 2002.p.21), vivemos atualmente um problema, pois a cada dia em nosso mundo mais coisas acontecem, mas a experiência é cada vez mais rara, quase nada nos toca. Os motivos podem ser a busca pelo controle, por perfectibilidade, ou podemos ver isso claramente no motivo apontado por Bondía (2002) e Benjamim (1994), o excesso de informação, que longe de ser experiência, é opinião pronta, portanto quase o oposto de experiência. E a fotografia vive o mesmo drama, pois cada vez vemos mais fotos, seja na internet, TV, revistas e jornais, nas ruas, mas vemos menos cada uma, não prestamos atenção e quase nenhuma nos toca (qual fonte?????). Vivemos uma enxurrada de informações, que no entanto não se completam, não são vivenciadas e não são experiência. Experiência é abertura, termo aliás também essencial na fotografia.

“A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço” (Bondía , 2002.p.19).

Assim, a experiência exige um tempo para prestarmos atenção, saindo do automatismo, e é algo que nos modifica, nos permite ampliar o espaço da vida Podemos dizer que a experência acontece quando paramos para experimentar a vida, por isso é humanizadora. Mas e a narrativa, pode ser uma experiência nesse sentido? (afirmação minha)

Podemos entender que a narrativa só é experiência, e assim impactante e com efeito humanizador, só é a verdadeira experiência, como preconizada por Bondía, quando acontece á nos, não como algo que fazemos, mas que faz conosco, nos muda de lugar, passa por cima, nos tira do conforto (melhorar, está confuso). A pessoa atingida pela experiência é “um sujeito sofredor, padecente, receptivo, aceitante, interpelado, submetido” (p.25). É a experiência que nos permite viver nosso mundo, e só assim podemos fazer a “ampliação da esfera do ser”. Isso é fácil entender quando, ao ler um livro, sentimos que este fala de nós, “nos dá palavras para exprimir sentimentos que estão em nós, e nem sequer sabíamos sentir, pois não conhecíamos termos para os definir” (Compagnon, 2006, p.38).

A narrativa

Numa possível definição (Benjamin, 1994), o poder da narrativa está na possibilidade de compartilhar experiências de forma profunda e humana, e as boas narrativas se caracterizam não por contar tudo, mas por deixar espaço para a inserção da própria experiência do ouvinte ou leitor.

A narrativa já vem sendo utilizada na área da saúde com importantes resultados. Com diferentes enfoque e nomes, como narrative medicine (CHARON, 2001) ou narrative based medicine (GREENHALGH, HURWITZ, 1999A), se fundamenta em ouvir as histórias de pacientes, mesmo quando aparentemente não relacionadas ao seu problema de saúde, com atenção e empatia, levando a um cuidado mais amplo. Mas a utilização das narrativas vem assumindo ainda outros aspectos, além dos previstos.

Para Rita Charon a competência em narrativa, para os médicos, leva à capacidade de ouvir e alcançar os pacientes, entender a jornada dos pacientes e as suas próprias, a poder construir um discurso sobre a a saúde. Ler e discutir obras literárias, assim como a escrita reflexiva, mostram a proximidade entre o método literário e o método clínico (Charon, 2001), e os conhecimentos singulares do indivíduo podem ser vistos de forma mais clara ao entender suas histórias, ser capaz de imaginar, interpretar e reconhecer, habilidades despertadas pela literatura, ou seja, pela narrativa. (CHARON, 2006).

Charon (2006) define narrativa como uma história que tem começo, meio e fim; uma trama; alguém que a conta ou escreve e alguém que a escuta ou lê; e, principalmente, narrativa é uma história a qual se atribui um sentido ou significado.

Poder expressar seus sofrimentos, sentimentos, crenças e visão de mundo, falando ou escrevendo, e diante de um interlocutor atento e compassivo, tem por si só um efeito terapêutico (CARROL, 2005), mas também permitem ao paciente organizar suas lembranças, sentimentos, problemas, encontrar suas próprias soluções (SHAPIRO, ROSS, 2002).

Entendido, de certa forma, o que define a narrativa, especialmente aplicada à saúde, buscaremos a ligação deste conceito com a fotografia, para entender se esta arte visual pode ser aplicada de forma análoga às narrativas escritas e faladas.

A fotografia como narrativa

A fotografia também pode nos causar um efeito interpelativo. Para isso deve ser bem observada (ver uma ref. para isso), assim ela pode nos atingir, nos transpassar, principalmente por poder nos sensibilizar num instante. Por não ser nossa obra, a fotografia nos permite explorá-la mas, ao mesmo tempo não nos permite o controle nem a total satisfação do desejo ou curiosidade gerado por ela. Barthes (XXXXX) definiu isso como Punctum, O olhar demorado sobre uma imagem pode gerar até mesmo o desconforto da identificação com algo nosso, muitas vezes ignorado.

Portanto, para a fotografia, como narrativa, ser uma experiência, é preciso criar um espaço, um tempo onde possamos ouvir, ver, falar, prestar atenção aos detalhes, mudar de opinião, até suspender a opinião, ouvir e ver novamente. (Bondía, 2….)

A fotografia tem uma relação muito característica com a realidade, Imaginemos a realidade como uma série de imagens fantasmagoricamente sobrepostas e inconstantes. O que a fotografia faz é parar uma dessas imagens, escolher um fantasma da realidade e congelá-lo (Sontag, 1981) . Nesse sentido a fotografia cria uma realidade muito mais real do que o objeto que a originou, esse sempre mudando, fugindo, esvaindo, pois a fotografia nos oferece uma realidade escolhida, selecionada, uma supra-realidade, que permite prestarmos atenção a aspectos até então ignorados. Os sentimentos despertados pela imagem, também muito reais, podem mudar nossa própria forma de ver o objeto que, lá atrás, foi fotografado.

A fotografia organiza a realidade, tão impalpável a princípio, a transforma em escrita. Não é a toa que Nièpce a chamou de photographie, a escrita com a luz. (citar sobre niépce) Assim a narrativa da fotografia é sempre a busca por uma organização a partir do caos cotídiano, e a sua possibilidade ser narrativa efetiva, de serexperiência, está na capacidade de dar sentidos ao espectador. (inventei isso, e a fonte????)

Se a boa narrativa é aquela que deixa para o receptor (espectador, leitor ou ouvinte) completar a história ( Benjamin…..) , encontramos no punctum ( Barthes p.????, ano), um conceito equivalente, pois este é o aspecto da imagem que permite ao espectador incluir sua pessoa na foto. Godolphim (p.___, 1995) também nos apresenta conceitos interessantes para o entendimento da imagem como narrativa, como funciona sua “discursividade”, sintaxe e dinâmica, e a habilidade do fotógrafo que seria de colocar os signos de nossa cultura relacionados a um contexto. (discorrer mais sobre isso)

A fotografia permite leituras de si e do outro, e permite ainda que a preenchamos com o que não está nela, mas em nós. Assim a imagem nos permite uma “viagem” pelo humano, pelo que está e pelo que não está representado nela. “Toda imagem fotográfica tem atrás de si uma história. Se, enquanto documento, ela é um instrumento de fixação da memória e, neste sentido, nos mostra como eram os objetos, os rostos, as ruas, o mundo, ao mesmo tempo, enquanto representação, ela nos faz imaginar os segredos implícitos, os enigmas que esconde, o não manifesto, a emoção e a ideologia do fotógrafo.” (Kossoy, 2005).

"A possibilidade de extrair uma narração, evidenciando eventos, descrevendo cenários e circunstâncias sociais, temporalizando e localizando, ou não, a cena fotografada, leva-nos a crer que a fotografia se caracteriza como uma narrativa visual" (Nobre, 2009, p. 79).

A fotografia tem potencial de levar ao processo afetivo-intelectivo-volitivo e á “ampliação da esfera do ser”, na medida que as representações visuais podem causar forte identificação, e de forma rápida, ao se conectar ao observador, ao afetá-lo (afetivamente). Como uma narrativa, visual a fotografia pode ser uma forma de representar, mostrar e ampliar experiências de vida, levar á reflexão (intelectiva). Ver narrações visuais, ou construir as próprias, potencializa pessoas para entender sua vida cotídiana, amplia suas possibilidades de entendimento  (Nobre, 2009, p. 79).

A fotografia ainda tem forte potencial de levar à criação (aspecto volitivo) ou interferência no meio, como podemos compreender através dos conceitos de SONTAG (1981. P.172) e Kossoy (2005. p.3), que entendem que a fotografia é sempre criação ou re-criação do real. (melhorar isso) Essa é a narrativa fotográfica, que reelabora a vida cotídiana, alarga o entendimento, une uma experiência de outro (o fotógrafo) à da pessoa que observa, (Nobre, 2009, p. 79).

O fotógrafo é como o narrador viajante de Benjamim, aquele que conta, por que viu, porque estava lá, como o antropólogo (Geertz), transforma uma tradição oral em visual, a história em imagem. Não se trata de explicações ou novas informações, mas de experiências compartilhadas. Ao observar fotos podemos construir uma nova narrativa, despertada pela imagem mas criada sobretudo pela nossa experiência.

Afeto, pensamento e ação são os elementos marcantes de uma boa narrativa, e de uma boa fotografia. Alma, olho e mão se unem para criar a narrativa escrita (Benjamim, 1994, p.16), assim como cabeça, o olho e o coração se unem para criar a narrativa fotográfica (Bresson,2015)

Como criar a discussão a partir de imagens?

Para ler imagens, de forma estética, é preciso escutar o que a imagem fala, como a poesia (Bachelard, 1974), viajar com ela. Ver uma imagem é estar lá, com ela, e nela. Propomos convidar os participantes a ouvir a poesia da foto, sem análise, sem história, sem entender, apenas ecoando, sentindo o que há de humano nelas, e neles mesmos, não como metáfora, mas como algo real refletido em si mesmo. A imagem como algo dado, origem do eco, sem outra origem anterior. A imagem fala algo novo (p.192) e dar valor a isso, a essa linguagem, nos aproxima das “coisas”, nos permite um caminho único e interessante pela poética da imagem, uma viagem por algo muito humano (191). Escutar as imagens é como escutar o outro, sem críticas, apenas escutar.

Outro conceito essencial será o Biografema, detalhe ínfimo, traço, revelador no entanto (Barthes, 2003), que permite apropriação, continuação por parte do observador em relação à imagem:

“(...) Gosto de certos traços biográficos que, na vida de um escritor, me encantam tanto quanto certas fotografias; chamei esses traços de ‘biografemas’; a Fotografia tem com a História a mesma relação que o biografema com a biografia” (Barthes, 1984, p. 51)

Se é a narrativa que dá sentido ao tempo, nos torna humanos, a imagem-narrativa nos dá a imagem do tempo e do humano?

Assim esperamos que os participantes de um grupo como o proposto aqui possam praticar a leitura, recriação e apropriação dos signos das narrativas visuais. Ao contrário do senso comum, não precisamos de mais informações para aprender sobre a vida, precisamos, antes, viver. O conhecimento sobre a vida não supera a vida, como aprendeu o “Homem ridículo” de Dostoiévski:

O conhecimento da vida está acima da vida; o conhecimento da lei da felicidade... está acima da própria felicidade... Eis aí aquilo contra que se deve Lutar. (DOSTOIÉVSKI, 2003)

Fotografia Contemplativa e Mindfulness

Se a simplicidade é um "remédio" para a crescente e estressante complexidade da vida moderna, uma prática que ajude a trazer essa simplicidade para o cotidiano pode ser muito humanizadora. Essencialmente a Fotografia Contemplativa traz a ideia de viver com mais simplicidade. A Fotografia Contemplativa é uma experiência visual direta, não conceitual, ou seja, trabalha com a percepção. É uma prática ligada à meditação que, buscando ver a realidade sem pré-conceitos, fórmulas, definições, ansiedades, objetivos, apenas ver, visa trazer nossa visão para o presente, para o real, abrindo nossos olhos e permitindo ver o “novo” no cotidiano, ver beleza e criar arte. Antes de uma técnica fotográfica é uma forma de ver o mundo e de viver. (KARR e WOOD, 2011, p.__)

A Fotografia Contemplativa se propõe como uma forma de meditar e refletir, desenvolver nossa sensibilidade e criatividade. (ZEHR, 2005, p.__).

Para a fotografia ser uma experiência real de ver, e uma meditação, é preciso receptividade e abertura, mindfulness, estar presente no momento, observando e achando a si mesmo, focando “em nada” e vendo tudo, encontrar o extraordinário no ordinário (ZEHR, 2005, p.24)

Acreditamos que essa prática causa forte impacto na forma de se ver o mundo e até de se viver.

Simplicidade

A simplicidade, é uma solução para a complicação da vida moderna, da nossa mente, fonte de saúde, liberdade e sentido. Ter atenção aos pequenos passos pode ser mais importante que as “grandes coisas”. O simples nem sempre é fácil, mas é essêncial a busca da clareza, do minimalismo, que são formas de sintonia com o mundo, com a vida.

Precisamos ir mais devagar, aproveitar bem o que está ao nosso alcance, sem ter pressa de aproveitar tudo. As pausas são parte da vida, e temos feito cada vez menos pausas. A experiencia como conhecimento decorre dess pausa (BONDIA).

A simplicidade é um "remédio" para a crescente e estressante complexidade da vida moderna, especialmente nas grandes cidades. Ao buscar ver e fotografar de forma mais simples, trazemos um pouco de simplicidade também para a nossa vida. Essa simplicidade se traduz em aproveitar o momento, olhar ao redor, sem esperar algo especifico, apenas ver o que realmente está ali!

Arte e humanidades

Um dos objetivos da Fotografia Contemplativa é fazer com que a arte contenha o cotidiano, e que o cotidiano seja repleto de arte. Valorizar o cotidiano, tendo o dia-a-dia repleto de arte, é uma forma de tornar a vida mais agradável, a arte realmente relevante e parte de nós. Este é um ciclo virtuoso.

Ao entender a arte como uma expressão da beleza do mundo através de você (não como expressão do seu eu particular) seu mundo se torna infinito, você percebera a riqueza presente no dia a dia! Vendo o mundo comum com olhos claros, com a percepção aberta, você encontrará uma fonte inesgotável para sua arte. Isso é uma verdadeira visão artística, e estará presente em tempo integral.

É por isso que a arte é universal, não apenas porque reflete algo pessoal que é comum à muitas pessoas, mas porque é um reflexo do mundo nas pessoas.

"A câmera é um instrumento que ensina as pessoas como ver sem a câmera" (Dorothea Lange). O objetivo da prática da Fotografia Contemplativa é ver mais, melhor, ver realmente, ver o mundo de forma ampla e profunda, e como material para nossa arte, no sentido mais amplo da palavra, no encantamento com o comum, material para lidarmos com a vida, como a literatura (COMPAGNON).

Beleza

A beleza está muito mais nos olhos de quem vê do que nas coisas. Obviamente uma pessoa de bem com a vida vê mais beleza. Por isso o treino de prestar mais atenção aos detalhes e a valorização do cotidiano nos ajudam a encontrar beleza, e assim...

Dostoiévski disse “a beleza salvará o mundo” (no livro O Idiota), referindo-se não à beleza apenas exterior, mas à ideia de viver com o capricho em cada pequena coisa. Assim fotografar (e até viver) com capricho, correção e atenção, buscando a simplicidade e profundidade da visão, provavelmente levará a criação de ótimas fotos, embora não seja esse o objetivo primordial.

Talvez possamos entender que Humanizar equivale a criar um “encantamento com a vida”? E a Fotografia Contemplativa, assim como as narrativas, tem forte potencial para criar esse encantamento, desestresante por sí mesmo, e mais ainda em suas repercussões.

Mindfulness

Também chamada, no Brasil, de Atenção Plena, é um termo que se refere à diversas práticas centradas na meditação, de origem oriental e secular. Pode se referir: à experiência direta do momento, integração mente-corpo, atitude aberta e não julgadora, como uma pausa; a um estado mental; técnicas, exercícios e programas de treinamento; ou ainda a um conceito psicológico. Tem como um dos seus principais objetivos o combate ao estresse através de regulação emocional e flexibilidade psicológica.  Intervenções baseadas em “mindfulness” têm sido cada vez mais utilizadas e reconhecidas como preventivas e terapêuticas, seguras, eficazes e efetivas na área da saúde e outras áreas (http://mindfulnessbrasil.com).

A Fotografia Contemplativa pode ser entendida como prática de Mindfulness, já que é um tipo de meditação voltada para a melhora da atenção sobre a realidade. Por sua vez, “a meditação tem sido progressivamente utilizada e reconhecida como intervenção profilática e terapêutica segura, eficaz e efetiva na área da saúde” (Demarzo, 2011).

Pensando na formação em saúde, “estudos com profissionais da área da saúde, incluindo equipes de APS, têm evidenciado que a prática da meditação ou a participação em um programa de meditação pode melhorar o manejo de situações estressantes no dia a dia de trabalho, com menor risco de desenvolvimento de burn-out (síndrome de esgotamento profissional )e melhora de indicadores de qualidade de vida associada ao trabalho” (Demarzo, 2011).

 

 

 


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